Echo, echo, echo(...)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011


Narayela.


Gabriela entrou no salão e cortou os cabelos bem curtos sem medo. À tarde a gata saiu para caçar. Olhou para o rapazote que vinha em sua direção: despojado demais. Esbarrou no quarentão: sério demais. Andou pelas ruas até cansar e nada. Como era possível, afinal, que já estivesse tão atrasada para o rito de final de semana? Estava se retirando para casa quando sentiu um olhar em seu pescoço. Olhar era tão intenso que fez com que se virasse. Lá estava sua diversão de fim de semana: uma gata com cara de dondoca e um homem de meia idade com cara de intelectual. Estavam olhando para ela já fazia um tempo de dentro do carro. Gabriela foi até eles, passou pelo motorista, deu a volta e parou ao lado da garota, apoiou os braços na borda da porta e sorriu sem lhes mostrar os dentes. A mulher estava com os lábios num meio sorriso e isso era um bom sinal para Gabriela, que achava que uma boca assim entreaberta era um aviso de que a cama compartilhada com essa pessoa devia ser bastante intensa. Não resistiu e deu um beijo naquela boca de lábios finos e bem pintados. A mulher correspondeu. O homem com ar de intelectual apenas observava a cena com ar parcialmente sério. Foram parar num apartamento. O homem serviu drinques e colocou música para tocar. Olhou para Gabriela e disse que ela se parecia com todo mundo. Ela não ligou, dançou sensualmente com a mulher e trocou insinuações mudas ao fim da dança. Sentaram-se, Gabriela ao lado direito do homem e a mulher, por impulso, deixou-se cair no colo dele. O sofá era macio. Os três beijaram-se triplamente. Estavam concentrados em suas línguas e respirações. Começaram a se esfregar pausadamente e com força, depois aumentaram o ritmo até que o tecido de suas roupas estivesse insuportavelmente quente. Gabriela levantou-se, tirou a mulher do colo do homem, abriu-lhe as calças e segurou o pênis dele com cuidado levando-o à boca. A mulher despiu as calças de Gabriela por trás e pôs-se a lambê-la devagar e concentradamente. O homem estava encantado – talvez já não achasse Gabriela igual a todo mundo. Os três fizeram amor durante pouco tempo, porém exploraram-se ao máximo, como se amassem um ao outro intimamente e para sempre. Depois o homem pagou a mulher com cara de dondoca e pediu o número do telefone de Gabriela. Ela não deu. E lá se foi Gabriela com o cheiro do cravo e cor da canela. Passou na casa de sua mãe e pegou seu filho de pai desconhecido, concebido numa época em que as doenças pareciam não ser temidas e foi para casa, suspirando felicidade por mais um ritual de fim de semana cumprido.



- Justine Febril

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