Vi quando ele passou com aquele andar em falso. Aquele andar tinha um quê de obsceno, um quê convidando para um banquete a dois. Esse convite mudo me paralisou a respiração. Tive anseios de cocote. Quis olhar e mãos. Será que o tecido mole de sua roupa esconderia um orgão flácido? Ai, esse tipo de convite sem intenção sempre me deixou aflita(...) Eu deveria fingir que nem vi, entretanto como poderia deixar de ceder a pensamentos despudorados assim tão facilmente? Ora, se não pude sequer me livrar da ação posterior à visão desse caminhar lento, que só os homens acima do peso são realmente capazes de ter. Uma mulher que fosse mais apegada a realidade teria deixado passar este momento(...) Ele caminhava lerdo, não parava, não olhava para nada que não estivesse a meio palmo de seu próprio nariz. Não pude ver seu rosto e nem tencionei fazê-lo, mas aquele caminhar lento(...) como eu fiquei distraída, absorta em pensamentos graciosos a partir daquele andar(...) sequer volvia o olhar para o que acontecia em volta. Mordi os lábios e a saliva desaguava na terceira dimensão, entre a minha língua e o meu céu da boca. Eis que surgiu o melhor e o pior de mim: movida por um impulso, vi-me a segui-lo toda serelepe, caminhei saltitante entre os restaurantes do meio do caminho. A perseguição durou apenas alguns minutos. Ele, como que por meio de magia, deu meia-volta, parou em minha frente e ficou me encarando. Ele era encantadoramente feio. Travamos uma batalha entre nós mesmos e o desejo. Cedemos.
Ele me telefonava nas horas mais absurdas, quando pouco restava de mim para qualquer afago. Queria me ver todos os minutos de todas as horas de todos os dias da semana. Ele viciou-se em mim e eu tive de deixá-lo. Por mais estranho que seja essa forma de agir para uma mulher: eu gosto de ir atrás das coisas que quero, e não que as coisas venham atrás de mim.
-Justine Febril.
Nenhum comentário:
Postar um comentário