Echo, echo, echo(...)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Em mim.


Elena passou a infância feliz, num mundo encantador de livros ilustrados, cães e gatos amigos, grama verde e paisagens marinhas. Aos 20 anos freqüentava reuniões regadas a vinho e rostos sorridentes. O semblante brilhante e as magras pernas cruzadas ao sentar (achava que era Cristo). Pensou que poderia escrever facilmente sua vida entre as longas horas em que flertava com a decência. Vivia devagar. Apegada demais. Seu único erro realmente. Ela desabrochava tentando agradar o mundo com suas rimas cheias de bolor e suas descobertas sexuais cansativas.

- Justine Febril,2004.

Obs.: Na foto, Elena, Chiclete, Marininha. Bela trupe!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Conversando impropriedades - confissão espontânea de uma paquera.


- O que aconteceu?
- Bem, eu vi quando ele passou com aquele andar em falso. Sabe, aquele andar que tem um quê de obsceno, um quê convidando para um banquete a dois? Pois bem, esse convite mudo me paralisou a respiração. Tive anseios de olhares e mãos.
(...)
Pausa.
(...)
- O tecido mole de sua roupa esconderia um órgão flácido? Ai, meu Deus, esse tipo de convite sem intenção sempre me deixou aflita(...)
- Foi o que pensei: não poderia conter meus pensamentos assim tão fácil, nem tampouco me livrar da ação posterior à visão desse caminhar lento, que só os homens acima do peso são realmente capazes de ter.
- E ele era gordo então?
- Estava acima do peso é verdade. Uma mulher mais apegada à realidade teria deixado passar esse momento(...) Só sei que ele caminhava lerdo, e não parava, não olhava em volta, de forma que não pude ver seu rosto nem tencionei fazê-lo, mas aquele caminhar lento(...) Como eu fiquei distraída absorta em pensamentos graciosos a partir daquele andar(...) Sequer volvia o olhar para o que acontecia ao lado.
- E ?
- Ai. Eu mordia os lábios e a saliva desaguava na terceira dimensão entre minha língua e meu céu da boca. Eis que surgiu o melhor e o pior de mim: Movida por um impulso me vi a segui-lo próximo aos restaurantes do meio do caminho. A perseguição durou apenas alguns minutos: ele, como que por meio de magia, deu meia volta, parou em minha frente e ficou me encarando.
- Como ele era?
- Ele era encantadoramente feio. Travamos uma batalha entre nós mesmos e o desejo.
- E depois?
- Ah, depois ele passou a me telefonar nas horas absurdas quando pouco restava de mim para qualquer afago. Queria me ver todos os minutos de todas as horas de todos os dias da semana. Imagine: ele viciou-se em mim e eu tive de deixá-lo. Por mais que seja estranho esse ato para uma mulher: eu gosto de ir atrás das coisas que quero e não que as coisas venham atrás de mim.


Obs; Na foto Grace e Narayana.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009


Contemplo todos os meus sonhos lembrando as bocas que beijei (e minhas perguntas, há tanto tempo sem respostas, começam a descrever minha natureza inconsequente). Comecei a ficar aflita por mãos fortes e licor fino misturado à soda; desejo profundo pelo que submete. Procuro não deixar que nada me escape e não devo, de qualquer forma, deixar-me escapar. Saio andando, duelando com o que deve acontecer, no entanto, finjo portar armas brancas, brilhantes armas novíssimas. - Cogito abandonar velhos hábitos baseados em coisas exatas. - Nada me impede de seguir em frente: afinal o que poderia me afetar? Meu mundo não é novo. Mas há sempre a novidade dos quartos onde só cabem dois corpos – finjo, mas não fujo.
É importante invocar as imagens antigas para que eu consiga funcionar entre instinto e decisões insensatas.
O que restará de mim quando isso acabar? Desejarei algo que entorpeça? Chegarei a um ponto consensual devido ao desgaste e ao uso que eu faço de mim mesma? A minha indefinição e a minha busca, por uma transformação que me deixe completa e perfeita, beiram a fanfarra, a parada, a moral, a mancha na imagem, a desordem e tudo o mais humanamente esperado.
Ouso ser.
Embriago-me e revelo-me em movimentos bruscos e passos leves. Conheço todos os labirintos que cruzo até o cansaço: quem não me amaria se um dia acordasse prostituta cristã tornada poeta?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Romance


Paula era o tipo de mulher de meia idade que despertava o interesse de Daniel. Ela era o tipo normal de mulher: usava maquiagem para disfarçar as imperfeições que o tempo cedo ou tarde causa.
Daniel gostava de mulheres que não aparentavam desespero ao ser observadas, além do mais Paula nunca prendia os cabelos.
Ele pediu que o garçom entregasse o bilhete e uma taça de vinho e eles foram para casa entusiasmados.
Daniel sentiu um pouco de desconforto ao notar o quão sensual ela era em comparação a ele que já não estava no auge sem as roupas (ao menos seu membro encontrava-se a toda dentro das calças: ele sabia que ela o desejava, senão não estaria com ele, não é?). Ela tomou um banho curto e pediu que ele aguardasse, pois tinha verdadeira paixão por homens com o perfume misturado ao suor. Quando ela voltou, ele pôde constatar como o corpo dela era lindo, a pele lisa e limpa, os pêlos arrepiados, os movimentos curtos... como ele a desejava apesar de tê-la sempre por perto?
Quando ela abriu as pernas ele fechou os olhos, bem podia jurar que sentiu um cheiro de flores. Ao abrir os olhos teve a sensação de estar diante de uma orquídea, uma orquídea de pétalas rosadas. Ele a beijou com doçura, depois lambeu de um extremo ao outro verificando que o suco vaginal de Paula era adocicado. Ele beijou-lhe mais uma vez, sugando o mel que escorria pelas pétalas, esfregou o rosto lentamente e lançou-se com toda sua experiência na arte de fazer uma mulher feliz através da carne. O gozo fez Paula tremer inteira. Ela pegou Daniel pela mão e o levou até o pequeno banheiro. Lavou-o com cuidado exagerado.
Ajoelhando-se, concentrou toda sua energia no ato da felação, como se tivesse nascido para isso. Daniel enlouqueceu de prazer. Antes que ele gozasse ela laçou a cintura dele com uma das pernas – fariam de tudo para escapar da rotina – iniciaram uma dança parecida com um bater de estaca. Foram para a cama ainda molhados e Paula deixou que ele ejaculasse em cima dela.
Acordaram um pouco atrasados para o trabalho. Daniel tomou uma xícara de café e Paula comeu uma fruta.
Ah, essa vida de casado ainda ia acabar com eles.

-Justine Febril.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


Hoje fui acordada cedo e fiquei cheia de boas vontades. Senti-me como uma criança oriental: inconfundivel. Tive vontade de cantarolar musiquinhas em francês no caminho para o trabalho (foi o que fiz). E também tive vontade de fazer ligações para confessar paixões, ouvir Jason Mraz, tomar vinho e passar a noite em claro. Senti coisas que só se sente quando se está só. E bem que eu gostaria de dividir tudo isso. – a larva do vulcão descendo garganta abaixo, as músicas embriagantes que compartilharia apenas com quem amo, a batida interminável do violão. Tudo tão intima e sinceramente envolvidos (...) estou absolutamente apaixonada por mim.
Fico sentada. Uma caneta na mão direita. A luz. Sempre a luminosidade, a caneta, a cadeira onde me sento todos os dias – e toda essa rotina só me deixa ainda mais feliz pela possibilidade de quebrá-la, transformando a vida em algo inusitado.
Sinto-me saudável. Saudavelmente alegre. A tranqüilidade por perto, sem agitação ou conformidade polida. E os pensamentos sendo mantidos em segredo, arrastando-se lânguidos, refluindo em mim sensação de bonança por ele, por ela, por mim mesma, até o máximo.
Tentei encolher meus gestos, mas apenas aticei o largo sorriso. Não preciso, então, dirigir meu pensamento somente para minha própria existência. Estou repleta de satisfação: minhas mãos estão cheias. Nesse momento não há mais nada que eu possa receber.

(...) e cortei os cabelos no domingo.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Retification - about December/10 Holocaust text.

Hi there,especially Pedro,

happily the information that I received for email on the Holocausto was false:

It was a hoax. It was around in 2007 and even the bbc had something to say on it. You, Gentlemen, can read the history of the hoax here:

http://www.snopes.com/politics/religion/holocaust.asp

It explains what happened and what the claims on the subject were.

Hope you forgive my mistake.

Hug,
N.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


É possível discernir nosso próprio padrão comportamental do padrão dos que estão ao lado? (Li em algum lugar, entre os poemas de Álvaro Cirne, que as cortinas escondem exibindo-se).
Nunca compreendi por que os mais fortes são imolados aos deuses da ruína e da loucura. Mas, percebo, aos poucos, que ninguém é mais o mesmo de ontem: estaremos em processo de degeneração? Talvez. Acho que infectamos o que temos de mais precioso; degeneramos o que nos é mais querido. – Fazemos isso por fraqueza e vaidade? Talvez. – Acho que o caminho infalível de verdades absolutas, descrito nos livros da vida, pode ser a causa de nossos conflitos. Estamos destinados à perfeição: vitória perfeita ou fracasso perfeito.
“O emblema da desgraça é a desastrosa conotação que o sexo adquire: de termômetro da saúde, passa a espetáculo de açougue. É uma profusão de taras e manias; drogas e signos caducos; ambientes onde o olhar cúmplice fere mais que a palavra viciada (...) o sexo perdeu-se nesse emaranhado de comportamentos rituais; já não é suposto sem os complementos fúnebres recorrentes, ou sem a passagem histérica de um objeto a outro – mergulhou-se na burocracia hedonista da insensibilidade.”
Então é necessário, senhores, que os que se dispõem a escapar da mediocridade, mantenham o esforço constante, para que se possa estar num mundo onde todas as pessoas sejam livres, onde se possa respirar livremente, onde o modelo de raça não se identifique com intransigência e engano, um mundo que não deixe a possibilidade de cairmos mortos de repente.

Obs; Entre aspas, trecho de “Carta aos Acionistas” autoria de Álvaro Cirne.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


Estava dando uma olhada num material sobre o nazismo e me deparei com uma declaração de certo bispo, Richard Williamson, onde ele negava a ocorrência do Holocausto nazista dos judeus. Williamson falou que o que dizem sobre o Holocausto não tem fundamento, que não há provas de que 6 milhões de judeus tenham sido mortos durante a Segunda Guerra Mundial, nem tampouco foi justificado. Imaginem, senhores, que ele também “questionou o uso de câmaras de gás pelos nazistas para matar judeus presos em campos de concentração.” Esse Williamson só podia estar louco quando fez essa declaração. Isso porque a posição ultraconservadora deve ter torcido algo em seu juízo durante os 20 anos em que esteve excomungado. Então me questionei: “e quanto ao relato das pessoas, ainda vivas, que fizeram parte desse pesadelo? Ah, claro, pessoas mentem. Tinha esquecido.” Padre Quevedo e esse bispo devem tomar vinho do porto juntos – disse Elytelma Araújo.
Afinal quantas provas, quantos registros, quantas fotos, quantos documentos deve haver para que se prove a existência de uma atrocidade sem tamanho como essa? Realmente os documentários, longas, curtas, livros, teses e tantos outros materiais sobre esse assunto devem ter saído da cabeça de pessoas com uma imaginação muito fértil onde, se plantar, de tudo dá. Imagine ser alvo de hostilidade, ser caçado, escravizado e morto durante uma guerra que alcançava a crueldade no máximo da intensidade. Imagine ser uma criança, ser um pai ou mãe de família, médico, músico, ter pouco ou ter tudo, mas ser livre, e, de repente, ver-se num campo de concentração pelo simples fato de você haver nascido, da maneira mais natural, judeu (...)
Depois recebi um e-mail que informava que o Reino Unido estava retirando dos currículos escolares essa parte importante da história. Motivo alegado: porque “ofende” a população muçulmana, que afirma, assim como o bispo, que o Holocausto nunca aconteceu.” O Irã também sustenta essa firmação de que nada aconteceu. É, vai ver que esse “pequeno” acontecimento, tratado como detalhe já sem importância vai virar mito. O mundo está louco. Estou me sentido como quando assisto a debates sobre o meio ambiente e sua preservação. As pessoas agem como se não fosse problema delas, como se o simples fato de não jogar lixo nas ruas não fosse fazer diferença alguma: será, meu Deus, que uma andorinha só, realmente, não faz verão?


Obs.: Na foto, INRI Cristo: mais uma pessoa lúcida num mundo onde Holocausto é mito, não é?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Metas e tensão para 2010.


Estou muito otimista que, em breve, meu projeto pessoal mais antigo sairá do papel, digo, “no” papel já que se trata de um livro. Com a concretização da primeira parte do que venho ainda produzindo, haverá novas perspectivas providenciais, finalizando, até que enfim, esse ciclo de ideias ao qual eu venho me submetendo intensivamente no último ano. Acho que vocês terão o prazer de visualizar detalhadamente em pouco tempo, creio que em meados do segundo semestre de 2010 - (eu não procuro, a princípio, gerar renda, pois quando iniciei essa empreitada, foi por brincadeira e agora estou finalizando com a preocupação voltada para o senso crítico das pessoas ao meu redor. Bem que agora o lucro que por ventura vier será recebido de braços abertos. Ha ha ha).
O referido livro foi concebido em 1997, através de várias tardes no jardim da casa de minha mãe, porém a execução/publicação não aconteceu. Para que eu tirasse “o pergaminho” de dentro da gaveta, reavivasse a chama de mostrar o que escrevi e escrevo aos outros foi necessário, durante um intervalo de 11 anos, um comitê de amigos me dizendo, quase que diariamente, que eu deveria encaminhar o material a uma editora o mais rápido possível, porém, cada pessoa que tentava me convencer a tanto, sentia a frustração tomando o lugar do entusiasmo, visto que quem deveria tentar-me convencer era ninguém mais, ninguém menos que eu mesma.
Foi quando o sábio Prof. Antenor Laurentino Ramos leu alguns de meus contos e disse: “Narayana, isso não pode ficar guardado só para você.” e eu disse acanhada: “ainda não está pronto” no que ele disse: “é, estou convencido de que ninguém é bom juiz em causa própria. É claro que este material está pronto. Eu diria que está prontíssimo!”
O problema é que além de eu achar que os contos estão inacabados, existe esse livro atravancando o meu caminho, mas pretendo finalizá-lo o quanto antes para poder encabeçar de vez nos outros projetos que me são tão preciosos.
Tempo, tempo, tempo. E mais tempo. Puta merda!
Mas, saibam, queridos amigos, que cada um de vocês contribuiu de alguma forma para que esse livro aconteça.
Obrigada.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sobre o comentário do comediante sacana.


O que o carioca tanto deplorou na “brincadeirinha” feita por esse conhecido e decadente comediante – e talvez não deplorasse tanto se o comentário feito pelo “Homem Bicentenário” fosse direcionado, diretamente, a qualquer outro lugar que não o Rio de Janeiro – talvez seja o fato de – como disse Armando Moya – haver “mexido com algo que o carioca tem demais: o orgulho.”
Mas, senhores, mais grave que uma piada infame é a forma como conduzimos as coisas em nosso dia-a-dia: nosso senso crítico (se é que um dia o tivemos) está de mal a pior; a fama de explorar nossas mulheres corre mundo a fora; o trafico de drogas é cada vez mais intenso e o consumo de substâncias ilícitas pode ser constatado em plena luz do dia pelas esquinas de muitas de nossas cidades; a violência gratuita e os freqüentes roubos em horários diversos impressionam a nós mesmos, imaginem aos que vêm visitar o país; os governantes parecem estar numa ausência total de posicionamento quanto à isso tudo, fazendo com que nossa jornada cotidiana seja ainda mais penosa.
Infelizmente, as pessoas confundem suas ideologias ao manifestar suas opiniões quanto a essa verdade incômoda. Ora, o que é o dia do Brasil na França? Nada mais que um show de belas mulatas “pra gringo babar” sobre o que deveria ser um evento de orgulho e respeito. E se já não havia limites para que o pensamento sobre nós fosse tão frustrante, depois da tal globalização parece que tudo piorou.
Não é de coerência, portanto, essa paixão sem limites por “um país de ordem e progresso com suas cidades maravilhosas,” que possue um histórico tão devastador quanto à piada sem graça de uma pessoa que também passou e passa por problemas, não tendo, então, respaldo moral para julgar o problema dos outros.
Via de regra, senhores, mesmo com tristeza no coração e ego ferido por haver nascido e morar num lugar que é alvo de sarcasmo e constantemente tendo seu valor real diminuído, prefiro aceitar o compromisso de dar o melhor de mim em prol do que acredito que possa contribuir para reverter esse processo perigoso de deteriorização a que estamos expostos desde o berço.
Estou despertando, senhores. Quero que vocês despertem também desse estado decadente, para que possamos deixar de nos ajoelhar e cair. Para que um dia possamos contar com nossa própria justiça, força, coragem e honra. Para que cada um de nós possa dizer: afinal, abro os olhos!
A consciência plena do que está acontecendo conosco já seria um começo.

Obs.:“Espero que ela (Oprah) não esteja chateada de perder as Olimpíadas. Chicago enviou Oprah e Michelle. O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó. Não foi justo”-Robin Williams.

Obs.: Na foto “Patch Adams”: o ator também teve seus momentos com a cocaína.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


Apaixonada por artes, juntando material sobre cinema, literatura, música e desenhos (grafic novels) há tempos, não resisti ao convite para encabeçar um novo projeto, sobre o qual falarei melhor mais tarde, e escrevi com maior vigor nesses últimos dias longas cartas poemas sobre os mais diversos temas (adoro carta como gênero literário, o que não gosto é a forma como eu conduzo tudo por um caminho que me parece insatisfatório no dia seguinte, mas que sempre agrada outras pessoas – mesmo que eu não consiga entender bem o porquê). Comecei a reparar que não ponho títulos nas coisas que produzo, mas só percebi porque pessoas haviam me dado o toque de que eu deveria colocar tema nas coisas que escrevo – estou falando com vocês mesmo: Mayara Guerra e Fabricio Busnello. Bom, tá legal, eu realmente não coloco, em sua maioria, título no que escrevo. O problema é que não sinto necessidade disso, na realidade não via ou ainda não vejo como isso poderia ser tão importante, senão do ponto de vista de chamar a atenção a um referido texto. Eu não escrevo para que outras pessoas me cubram de elogios, pois escrevo quase sempre para que me compreendam um pouco e não para que me julguem. Quero que os senhores acreditem, como eu acredito, que mesmo sem título existem publicações bem bacaninhas. Não gosto – ainda – de coisas que nascem, vivem, apodrecem e morrem como num jogo de marketing, por isso tento ser uma “perpetua”. Não gosto de coisas falsas como criação e falsas como estratégia. Então estou me esforçando para pôr títulos em meus escritos, pois, se uma pessoa me fala, eu dou um ouvido e se duas me falam sobre a mesma coisa eu dou ouvidos. Então, pessoal, essa primeira parte do post é para dizer obrigada aos que me ajudam em minha jornada pelo caminho das letras: suas sugestões são muito importantes para mim.
Agora um recado (que poderia ser apenas uma observação longa):
Falo sempre aos senhores porque sinto uma vontade sem fim de estabelecer novos laços de amizades produtivas. Mas, espero que vocês que andam me lendo por aqui saibam que os recebo e checo muito do que têm escrito tendo vontade, por vezes, de assinar com pensamentos meus. O problema é que não estou conseguindo postar comentários na maioria dos blogs que visito nem visualizar quantos ainda estão me lendo e com que frequência, pois o marcador do blog está quebrado há tempos (mais ou menos duas semanas após sua criação).

E é isso.

Finalizo com gracejos de cocote a todos,
N.

Obs.: Na foto, pintura de Franz Eybl, "Girl Reading"-1850.(Belo)!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sobre as férias/passado - 2009/planos - 2010.


Fui acusada de “não visitar meus amigos” e de “conquistar sem intenção de dar suporte”. Esta última acusação era um velho caso. Não dei muita importância ao fato, pois a mesma acusação é feita a outras pessoas que conheço de tempos em tempos fazendo com que eu me solidarize com esses colegas. Mesmo sabendo que ambas as acusações tinham fundamento, eu, ironizando, disse que nunca deixaria que isso acontecesse visto que dispunha de “muito dinheiro” e “tempo” para visitar todos os meus amigos que moram em todas as partes do Brasil e do mundo. - Não gostaria que amigos queridos se sentissem abandonados, então, passei “1.414 anos” fazendo planos minuciosos para minhas férias em 2009, pois não poderia deixar que minhas visitas atravessassem um pequeno ou grande calvário, já que dessa forma não poderia chamar essa temporada de férias. – As acusações seriam retiradas? Porra nenhuma! - Quando contabilizei o saldo dessa viagem pude verificar que não havia sido bem como eu havia planejado: ES – 1 semana; SP – 3 dias; MG – 3 dias; Natal – 1 semana. Mas, eis que tudo se desenrolou assim: de dezembro, em Natal, através das encostas dos quintais, até 03 de janeiro, daí rumo à Guarapari, através de tantos Estados, de SE, da BA ao ES e finalmente, através de toda minha elegância e camaradagem, à Guarapari. Sem direção geral: Nordeste ou Sudeste. Encontrei com pessoas que amo e respeito muito e pude constatar que a recíproca já não era tão verdadeira, pois, além de certo jogo de interesse, havia a inveja que alguém sempre cismava de ter nessas ocasiões - Nesse ponto acabou meu sossego e começou meu martírio. Paciência.

- Férias de 2009.


Agora já não faço tantos planos baseados na pressão do “querer” de outras pessoas. Como disse Selton Melo (perfeito)em O Cheiro do Ralo: hoje eu sou mais eu!
Esse ano eu quero o roteiro incluindo ao menos 05 dias em Minas Gerais. A grana é pouca – tomara que dê tudo certo.

- Planos para Férias/2010.


Obs.: Na foto, Selton Melo (perfeito 2)em o Cheiro do Ralo/2006, dirigido por Heitor Dhalia e baseado na obra de Mutarelli(premiado autor de quadrinhos).

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Abro os olhos, mas tenho sono, senhores(...)*


Estou incomodada com a sequência inicial de sonolência que se inoculou em mim tal qual uma doença e que não quer mais me deixar em paz: se estou no ônibus, estou com sono, se estou num carro, estou com sono. Sou capaz de dormir em pé(...)* (ao menos minhas dores nos rins foram embora).
Acho que os senhores não podem nem imaginar como esse sono está atrapalhando minha maratona de afazeres diários. Meus dias estão passando como se tudo que eu tivesse que fazer estivesse se embaralhando e acumulando num mosaico bastante colorido e confuso. Mas calma lá, essa sonolência não se trata de ações inconseqüentes: é que tudo que devo fazer é tão urgente e prazeroso que não pude conter minha excitação sabendo que se terminar tudo no menor tempo vou poder desfrutar de férias tão merecidas quanto se estar apaixonado faz bem à saúde.
Continuo lendo Trotsky, digitando meu livro para a revisão, escrevendo meus contos e poemas, e, ah, a novidade desse final de semana é minha nova tatuagem: If you can’t sing it, You’ll have to swing it. – frase da Ella Fitzgerald.

Obs.: consegui apenas duas almas esse fim de semana. Saldo mínimo, porém positivo: thumbs up!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Momento ìntimo


Encostei minha cabeça em seu peito como forma de terapia.

Fiquei lá todo indefeso, incapaz de impedir o que você queria fazer, tendo de agüentar você sendo má – eu sei que você sabe como fazer isso.

Então adormeci e tive um sonho parecido com o de Jacó: anjos andando por uma rampa nas duas direções, descendo do céu e subindo até ele.

Quando acordei minha cabeça já não estava em seu peito, nem você estava mais lá. Seria possível negociar com Deus?

“E para que serve a alma se não a puderes negociar?”- era o que tinha lido num daqueles livros silenciosos que me encaravam diariamente.

E aí se formou um estranho alarido dentro de mim e eu quis te telefonar para saber como estava, o que me foi assustadoramente estranho

já que nunca me importei realmente com isso.

Eu liguei, mas ninguém atendeu.

Então eu virei para o lado e dormi. Decerto amanhã tudo estará bem.




-Salvador Rios*, 2005.


Obs; Salvador Rios é pseudonimo de Narayana.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009




Obs; piadinha interessante que vi no site do Dr. Pepper.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Oração


Senhor,
Que meus projetos pessoais surjam muito bem amarrados à minha disponibilidade;
Que eu exale talento e criatividade bem concebidos e iluminados;
Que nos salões aonde eu raramente vou sejam mais bem frequentados por pessoas que se socializem e travem consigo mesmos e uns com os outros embates sentimentais e humanos que me deem uma profundidade inesperada;
Que o contraste entre a depressiva trilha sonora de minha vida e a inventada e atraente forma de agir dos medíocres não me atraía para sua teia central;
Que o sexo seguro apareça integrado às vidas das pessoas;
Que os babacas de plantão deixem de se chocar ou excitar com situações comuns ou com eventos que digam respeito à intimidade alheia (ao invés disso procurem ajudar o próximo (qualquer lavagem de roupa também é válida);
E que a tristeza, o vazio e a solidão de muitos dê lugar às pessoas interessantes, inteligentes, distintas e sexy, que sei que existem e devem estar em algum lugar;
Por fim, que eu mesma mude e que minha mesquinhez e meu egoísmo deem lugar a uma mulher segura e de caráter inteiriço que saiba ter nas mãos as alavancas de comando que vêm junto com a maturidade;
Que eu saiba dar as cartas do jogo.
Amém.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Sábado a noite, pedi uma pizza e uma puta.
A última trouxe a primeira.
As duas chegaram frias.
Não pude reunir entusiasmo para comer nenhuma.
No dia seguinte, uma foi embora no taxi,
outra na caixa.
A pizza, meia muzzarella, meia calabreza;
a puta, meio portuguesa, meio vegetariana."

-Sânzio Barreto.

Sobre o dinamismo de Narayana

Escrevo desde sempre. Desenho desde sempre. Também distribuo chicotadas para quem passa e me saúda - apenas por hábito. Amo cinema, quadrinhos eróticos, dança e música de cabaré. Teatro também me apetece. Sou oriente que desorienta. Olhos pequenos formando riscos ao sorrir. Sou vaidosa – pinto meus cabelos de vez em quando, e como carne.

Outro poema (desta vez persona masculino):

Tinha acabado de ouvir Nat King Cole em compainha dela. - Ela sempre me deixava recorrer ao seu corpo. - O vinho e a pouca luz ajudavam a me fragilizar. Então eu passava a mão em seus cabelos e perguntava se podia dormir um pouco antes de ir embora.
Sempre me achei um tolo por me apaixonar tão facilmente.
Gostava tanto de tudo que no final não podia dar assistência e nem podia ser infiel às minhas necessidades de liberdade, pois estava sempre preso a tudo. - Sabia disso tanto quanto Florence ser milhardária e péssima cantora.
Mas sempre tinham esperanças de que eu mudasse a minha forma de agir. Ao invés disso eu sucumbia a qualquer mulher que se aproximasse tornando-me um sujeitinho tacanho e espetacularmente disputado. Estava sempre disponível para o amor e para o vinho. Saia-me bem ao caminhar pelos pedregulhos entre as palmeiras imperiais, vendo milagres com meus próprios olhos, sob minha ótica. - Aqui eu parava em frente ao meu apartamento, menor que uma biboca, e me lembrava de sua inocente forma de encenar. - Eu deixava que você voltasse a me procurar, a mim o anti-herói, o cafajeste original. Não conseguia evitar agir assim: (acho que) sempre foi mais forte que eu.

-O Amante Fiel, Salvador Rios.

Obs.: “Prefiro a língua do povo à gramática dos medíocres.” (José Lins do Rego).

Obs.2: Salvador Rios e Justine Febril são dois de meus pseudônimos. Espero que vocês, senhores, gostem.

Obs3: Dica de filme: Germinal de Emile Zola, para quem gosta de história e Shortbus de John Cameron Mitchell, para quem tem o dom de enxergar as pessoas sem preconceitos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Poema:

Aquele dia estará guardado entre minhas lembranças mais doces. Você estava tão distraído e belo de costas para mim. Senti um leve perfume quando você entrou na sala. Esperei que passasse por mim e vi seu contorno através da roupa que usava. Acho que me apaixonei ali mesmo naquele momento. Pensei algo sobre o relevo fantástico que suas costas têm. E suspirei ao ver seu rosto. E você não falou ou sorriu. Não precisou. Depois eu também nada disse. Mas olhei e sorri em sua direção e você adivinhou-me o pensamento, com o cenho coberto de rubor. Aquele dia foi divertido? Conte-me mais sobre nós. Aqui hoje serei toda ouvidos.
(...)

(...)
Estive pensando em momentos breves de liberdade que tive outrora. Hoje sou dona de mim e de todas as outras que habitam minhas liras. Tento não falar em amores fúteis e deixar que minhas bocas beijem as palavras livres como ventania desenhadas no papel. Ontem fui aquela que se deitava com o corpo sujo de aventuras constantes. Nunca adiantou, nunca pude escapar de nenhuma mim. Calei tudo antes por não estar habituada a ter o que dizer: eu não gosto de me explicar. Mas a manhã não está tão cinza assim para que eu e minhas versões estejamos tão angustiadas. Tenho urgência de tudo agora como nunca poderia ter tido antes. Doravante quero que saiba que minha estima por sua pessoa vai muito além de tudo aquilo que propus no inicio: eu amo você.

- Carta a você sob leve efeito de álcool, Justine Febril.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mais sobre mim - novamente, sim.


Procuro ater-me aos fatos para não ser conduzida a conclusões apressadas. Como já havia dito antes, não acredito em nada que leio e ouço, e somente em metade do que vejo, pois não gosto de me apresentar rastejante diante de fatos mal compreendidos – isso é para mim verdadeiramente odioso.
Minha falta de conhecimento e experiência de vida por vezes me levaram ao julgo limitado dos tolos – não quero isso nunca mais, sobretudo por saber que julguei mal e em contra partida fui mal julgada. - O que eu poderia fazer quando eu me sentia plenamente capaz de me movimentar ao generalizar as coisas?
Ora, senhores, eu realmente nunca poderia continuar sendo uma radicalzinha de merda que ainda por cima era leiga – minha ótica nada tinha a ver com embasamento teórico ou qualquer outro tipo de lógica que fosse aceita e sim com o fato de eu querer ou não agir dessa ou daquela forma (tudo dependia sempre da dor de barriga que eu sentisse no momento).
Hoje minha aversão por tudo que é luta mesquinha e que não está lógica e ideologicamente formado é o que faz de mim uma Narayana que busca, em todos os domínios, sem exceção, estar viva e deixar viver.
Essa minha personalidade já se manifestava enquanto adolescente e embora somente agora eu consiga enxergar com um pouco de clareza, gostaria de aprender mais sobre esses pensamentos que me vêm e que com certeza marcarão o resto de minha vida. Conhecer-me a fundo será minha primeira lição elementar.
Não desconfio das generalizações, mas não as busco. Decerto que ainda sou vitimada por elas, porém continuo caminhando e já não procuro descansar à sombra de minha própria espada.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Era uma vez um pintinho chamado Relam.
Um dia choveu e Relam piou.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Parece Piada mesmo.


Estava com uma puta dor nas costas, e eis que o Big perguntou: “Onde é?” Então eu disse que era no final da coluna do lado esquerdo e ele respondeu: “Ih, acho que o problema não é nem na coluna nem nas costas, minha filha, é nos rins.” Eu disse: “Mas as palmas de minhas mãos estão com uma aparência tão saudável.” E ele respondeu: “Hã, será que é porque, tipo, o órgão que está relacionado com as mãos é o fígado?”
Podem rir, senhores. Eu mesma nem lembro quando foi que eu parei.
Por outro lado todo o meu riso foi dando espaço à consciência de que devo ficar bem, no pleno sentido da palavra – ora, se vou morrer um dia que eu pare então de me limitar, nas minhas ações, por considerações que não a da simples utilidade à boa causa – vou me enveredar através dos objetivos pessoais , mesmo sabendo que a empreitada será, em termos rigorosamente práticos, árdua e penosa, pois viver num mundo onde a onda de todos os tempos é o falso moralismo, equivale a dizer que quem age de forma contrária é causador de asco, crivado de balas, julgado e morto.
Estive durante muito tempo me sentindo como Leon Trotsky cujas qualidades de nada serviam – ao contrário às vezes já atrapalharam. Vou me concentrar para dar um basta nisso. Para tanto a ideia e o ato devem ser dois vasos que se comuniquem, mesmo que nem sempre contenham o mesmo conteúdo para a formação da futura criatura Narayana.
Quero manifestar minha voz e meus atos.
Começarei pelos rins.

sábado, 14 de novembro de 2009

Teoria X Prática (ou não prática).


Art. 1° Republica Federativa do Brasil
Fundamentos:
I – Soberania;
II – Cidadania;
III – Dignidade da pessoa humana;
IV – Os valores sociais do trabalho e da iniciativa humana;
V – Pluralismo político;

Obs.: A teoria é linda – quando puder ser unida à prática será perfeito!
Nota (gigante):
Todos os dias ouço dizer que eu, em termos de imagem que passo, posso ser tomada basicamente como uma garota moderninha de gênio forte e sorriso maroto. Mas é uma definição que limita cruelmente a minha estatura, prendendo- me a um ponto de referencia que, como força ideológica e dimensão humana, não me faz justiça. As circunstâncias mais dramáticas e mais divulgadas de minha vida são abordadas por pessoas que sequer têm laços de amizade comigo, pessoas estranhas, colegas em suma, – e eu sempre combatendo isso com tamanha concentração e obstinação durante tantos anos – que se formou como que uma dependência dos outros em relação a mim. Não compreendo como é tão fácil julgar e condenar baseado em circunstancias tão superficiais. Não acho que eu deveria despertar tanto interesse, mas ainda assim desperto. Eu deveria ser mais ou menos como um parágrafo em que se encontrariam as resistências que os meus demônios internos – os quais eu acredito agora são meus melhores amigos – tiveram de vencer e implacavelmente esmagar.
O que está claro para mim é que devo trilhar o meu próprio caminho. Mas como posso fazê-lo, fora de meus escritos e meus enunciados teóricos? Tento não dispensar os instrumentos concretos que me são disponibilizados para me exercer afirmativamente - apesar de vez por outra deixar que um martelo caísse machucando meus pés. Sei que não me integro na linha oficial pelo simples fato de não estar no poder e fico constantemente de mãos atadas e dependente da facção dominante. Com minhas trevas exteriores tento contestar interminavelmente o que acredito ser injusto, mas sem tempo ou condições para me afirmar senão em oposição às ideias que combato.
Seja como for, fica sempre a impressão, referida no início dessa nota, de eu ser uma Narayana engraçadinha, geniosa e encantadora, quando eu sou, na realidade, muito mais que isso.
Onde é que isso vai parar?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009


Para ser sincera, nem chego a ser uma cinéfila, daquelas que se não rolar o cinema durante a semana significa a treva. Ainda assim o cinema é para mim quase sempre o melhor lugar, bom mesmo de se estar. Curto um bom filme pelo mesmo motivo que amo boa música ou leio um bom livro: por respeito a meus princípios, pela reverência às coisas que todos deveriam vivenciar sem amarras, pelo apego ao conceito de explorar o bom da vida e tirar o melhor proveito disso.
Agora, nada posso fazer, infelizmente, se o “pessoal” que gosta de rotular prefere achar que quem pensa como eu é “metido a besta”, como se entendessem que não existem pessoas requintadas, intelectuais que merecem respeito e mesmo aplauso por suas ideias –ainda não sou uma intelectual, mas é o que busco e não vejo mal nisso. Os seres modernos estão muito negativos, associando à frustração ou violência coisas que deveriam ser boas – falta humor e sinceridade nas pessoas, além de viés político. Todos preferem falar mal uns dos outros, pois essa é a solução para o tédio deles – como disse uma pessoa muito querida: “é que a felicidade incomoda, Narayana.”
Pois é, eu incomodo por ser muito frontal e honesta quando, apesar dos sorrisos no rosto, reproduzo meus anseios, dúvidas e desejos que, por mais que os outros finjam que não, sei que são comuns a todo ser humano.
Se existe algo errado e distorcido na forma como as pessoas veem umas as outras é apenas pelo fato de certas situações servirem como um espelho para uma sociedade que sente vergonha de se ver e assumir. Os seres humanos vivem angustiados por quererem saber mais sobre os vizinhos sem se preocuparem em reconhecer a si próprios – e é aí que a vida os atravessa sem que eles percebam o quão à deriva estão.
Eu só posso ficar triste por saber que o “normal”, o a “aceitável”, o “invejável” é ser popular, é seguir a massa, é dançar ao som da bunda music e tomar bebida barata até não se saber mais o que está sendo dito ou feito.
E por quê? Porque de outra forma eu não poderei ser aceita pelo que sou.
O mundo desmorona, o espaço dilata, as eras passam em segundos, o céu se cobre de estrelas – e o céu se despedaça – fico calada – e fico calada mais pausadamente, tranco no peito o que sinto e não ouço mais nada. Será que o que deve ser dito vai ser ouvido? As pessoas mesquinhas parecem não ter fim: multiplicam-se aos montes. Parece que nunca está tudo bem. E daí? Não me resta outra opção, como disse James Joyce: “Escreva, desgraçada*, escreva sobre isso! Para quê mais você serve?”


Obs.: Na foto, Roots de Frida Kahlo, artista que consegue expressar com suas pinturas dores infinitas e indizíveis.

Obs.: *No original esse trecho diz desgraçado – no masculino - e não desgraçada como coloquei.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

UM ÚLTIMO AVISO (trecho).


(...)
Desejo que você lembre as frases de que gosta. Que você descubra sopro de luz e arremedo de sorriso nos céus por onde desfila. Desejo que você ame e odeie até o limite. Desejo de todo coração que você passe bem. Sim, que você passe muito bem, mas não ouse fazê-lo sem mim.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Books/life project.


Now, I am all for toying around with new concepts and initiatives that help the independent exceptionally talented and wildly imaginative people I knew last year.
all this years, I come to proclaim an end to the petty grievances and false promises, the recriminations and dogmas that for far too long have strangled our ideas.
Now that we finally can brake that conception false barrier about our true deep thought i hope how much longer until we break the mind barrier and have an inauguration without someone's hand on a bible.

I’m really, really proud of you guys: Iva Tai, Marquês, Elytelma, Emilia Ract, Little Laura (big sis)!
God bless you so!

Ps.: In the pic above: Endless, by Neil Gaiman.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009


Acho que comecei a me interessar por música e poesia desde a barriga de minha mãe. Lembro que nossa casa era cheia de gente bonita e performática.
Houve uma época em que eu quis ser bailarina (infelizmente, em decorrência de seis meses e 15 dias de instabilidade em desempenho pelos quais passei, não pude alcançar senão uma apresentação de meia hora no TAM – Teatro Alberto Maranhão – Nessa época senti-me tal qual uma cerejeira que floresce de uma forma, digamos, muito rápida e as flores perecem num período curto. O sentido disso, nesse caso, era da necessidade de fazer o melhor que era concedido à época. – Isso também se foi? – de repente as coisas se equilibraram dentro de mim. O problema é que esse equilíbrio oscila num vai e vem medonho ainda hoje.
Por esses dias devido à falta de tempo surgiu um desejo profundo e conciso de me renovar no ritmo acelerado desse mundo louco. Como isso é cansativo: acordar muito cedo, trabalhar, ir “marombar” – sim, senhores, eu marombo - dividindo o horário do almoço com os ferros que puxo, depois vou trabalhar de novo, então tenho de ir para casa tomar banho para, mais uma vez, trabalhar (...) tudo que me constitui se entrelaça – não tenho distanciamento crítico suficiente de mim mesma, acho que ninguém tem – e começo a achar que nem os animais gostam de solidão.

Obs.: Na foto pessoas bonitas e marotas em Ceará Mirim: dia de tributo a Raul, grande Raul.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


Então, há tempos eu tento ressaltar a importância do ato de escrever para mim levando-se em consideração que a modalidade da escrita é fundamental para várias pessoas. Atualmente, minha incrível dificuldade com a ortografia ultrapassou o sinal vermelho com força, sobretudo depois dessa reforma.
Minha capacidade de colocar minhas ideias no papel de forma clara sempre foi consideravelmente satisfatória, porém foi com grande pesar que verifiquei que eu ainda escrevia coco com acento – essa palavra não tem acento há tempos! Eu já sabia do quão precária era minha desenvoltura quanto à acentuação das palavras e etc., troco “s” por “z” e tal, mas nada se comparou ao meu embaraço quando a incomparável Doutora Glícia Azevedo disse em alto e bom tom que eu escrevia muito, muito bem, pois eu sabia que cada palavra de minha redação contara com a ajuda do querido Office Word/2007 (obrigada)!
Meu conhecimento das possibilidades da língua brasileira*exige que eu leia muito. Devo ser muito lenta ainda, pois não consigo assimilar muita coisa apesar de sentir-me estimulada ao máximo a elaborar um texto com tema sugerido. Isso não me incomoda tanto por saber que tenho uma revisora fantástica para o que tenho escrito – Kika, adoro você! – contudo andei lendo uns manuscritos de “Nara Potter” antes de jogar no lixo e comprovei que esses meus textos apesar de prosaicos também eram originais e diziam mais sobre minha personalidade até do que eu gostaria de transparecer. Apesar de já não concordar com nada ou quase nada do que já escrevi creio que não devo mais parar de produzir esses rabiscos, pois esse ato é para mim agradabilíssimo, além de estar sempre visando ao melhor domínio da expressão escrita. Espero de coração que ao escrever tanto quanto leio eu consiga, ao longo dos anos e com a prática, sanar esse meu mal entendido com a ortografia. Entre mortos e feridos a escrita sobrevive afinal.
Como se diz no latim: Malo tutus humi repere quam ruere.**

Obs1.: *Digo língua brasileira por compactuar com a ideia de que há diferença nas formas de escrever e falar entre Portugal e Brasil.
Obs2.: ** Antes burro que me leve a cavalo que me derrube.
Obs3.: Dica de HQ Erótica: Bitch in Heat (Puta no Cio) da inigualável italiana Giovanna Casotto.
Obs4.: Na foto, obra de Aubrey Vincent Beardsley.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Foi Antônio Cícero quem disse que “com o passar do tempo, se você não publica, os poemas vão diminuindo de número e não aumentando.” Assim que li essa afirmação concordei. Minhas ideias – tanto as escritas como as ágrafas, tais quais as da elite artística, - também estavam sujeitas a um processo progressivo de erosão. Já não penso mais da forma que pensava quando escrevi meu primeiro conto, meu primeiro poema, meu primeiro romance.
Mudo constantemente o que escrevi porque mudo constantemente a mim mesma. Claro que tudo seria muito diferente se publicado: já não haveria o que eu pudesse fazer.
Houve um tempo em que me importava à maneira como os outros viam meu “trabalho”. Hoje em dia tanto faz se as pessoas especulam a respeito do que escrevo – desde que desperte o interesse de alguém que não tenha o ego inchado acho que não devo me preocupar.
O fato é que com o tempo passando, meus olhos já não querem fiscalizar a pilha de papel que sempre se acumula por cantos escolhidos da minha casa, seja por seu conteúdo que já não me parece tão útil ou porque já não existam mais resquícios em meus pensamentos sobre o que está ali diante de mim.
Às vezes fico tão chata, sem conseguir me concentrar para finalizar e organizar meus projetos que já não me interessa o que está em jogo. Isso sem mencionar os projetos a longo prazo.
Nunca quis presentear alguém com essas pérolas que escrevi – salvo duas ou três situações - por achar que não existam pessoas que possam compreender tais devaneios, principalmente ao usar meus personas prediletos: os masculinos. Quando uso pseudônimos fico menos tensa com o conteúdo vibrando da mente para o papel. São coisas perfeitas, íntimas, as mais corretas com que posso contar. E meus neurônios, minha alma e meu semblante são preenchidos com ar mais puro e só quem não é poeta não se sente assim.
Dei uma parada para essa reflexão, agora vou lá com meus lamentos e meus sorrisos.
Como diria meu pai: “Quem é bonito é bonito e quem é feio que Zidane ou faça gols!”

Obs.: Na foto Marcelus Bob aconselha Narayana.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Elena passou a infância feliz aprisionada num corpo de meretriz cercada por livros empilhados nas estantes. Aos 20 anos freqüentava reuniões regadas a vinho e rostos sorridentes. Apaixonava-se com a mesma freqüência que se desapegava: tarde demais. Matinha o semblante radiante cheio de maquiagem incolor. Tinha olhar rebelde e suas magras pernas estavam sempre cruzadas ao sentar (achava que era Cristo). Pensou que poderia escrever facilmente sua vida entre as horas em que flertava descaradamente com contratempos decentes. Vivia devagar. Afetada demais. – Seu único erro realmente. Ela desabrochava tentando agradar o mundo com suas quatro condições para ser feliz: hábito, consolo, desejo e esquecimento. Talvez descumprisse essas ideias quando retornava cansada para casa pela manhã. – Nessas horas sempre tropeçava chegando por vezes a berrar palavrões. Estava sempre disposta a se dar completamente (poderia cair e morrer mil vezes).
Ela jogava muito bem, era o que todos diziam.
E ela era apenas uma menina aprisionada num corpo de meretriz.

Obs.: Na foto, cena de Amores Perros.

terça-feira, 3 de novembro de 2009


Era uma vez uma ela que se perdia no desgaste de seu próprio fôlego. E essa ela se perguntava constantemente o que havia acontecido aos seus heróis. Ouvia gritos madrugada à dentro – vez por outra tiros. Não acreditava no que escutava, nem no que lia e apenas em metade do que via. Acreditava que esse mundo não é para pessoas que estão habituadas a amar demais, a se divertir e digerir ações sem peso na consciência por estarem vivas.
Ela era dessas elas que competiam mentalmente contra a teimosia verbal dos frouxos e cretinos – malditos cretinos empestando o mundo.
Mas essa ela, essa mulher, olhava nos olhos e sorria e sentava-se na cama para depois deitar-se sem dormir. Deliciava-se com os raios de sol surgindo longe e acordava feliz mesmo sem haver dormido.
Era uma vez uma mulher que ousava fingir, que fingia muito bem, fingia tão completamente que chegava a fingir que era bem estar o bem estar que ela de verdade sentia. Era fã dos versinhos de Alice Ruiz. Não gostava de se explicar e se explicava mesmo assim. Andava rápido, vagando quase sem parar.
Um dia sabia que iria ter de frear, não sabia quando.
Morreria em janeiro
sem saber como.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009



Já notaram como um homem maduro é frágil?
Minha saudosa chefa, Elytelma, essa semana me disse em uma conversa informal que tinha um amigo que estava numa fase um pouco complicada: aos trinta e tantos anos confidenciou ele que apesar de estar saindo com ninfetas bastante jovens e bonitas notava que certa insatisfação que ele andava sentido estava beirando a indigestão. Diante desse quadro, minha superior, muito estrategicamente transformando a resposta em eufemismo, disse: “Mas o que é que você queria? Uma pessoa não pode se alimentar apenas de sobremesa! Os docinhos de festa, sorvetinhos, chocolatinhos e outras guloseimas são deliciosos, é claro, mas ninguém vive só disso. Pode-se morrer de diabetes e frustração.”
E eu morri de rir com isso. Mas, afinal,você pode dizer a idade de um homem, ou pelo menos a idade mental dele, a partir da idade da sua companheira?
Se ele joga playstation, por exemplo, ele seria um imbecil imaturo? A escolha lexical num papo, as gírias que ele usa, a migração das roupas estilo pólo e camisa de botão para as confortáveis camisetas de algodão, até alcançar a perfeição: camisa de banda de rock, enfim, são muitas as maneiras de se medir a maturidade de um homem. Mas talvez nenhuma se compare à idade de sua companheira.
Quando se é um homem maduro qual será a verdadeira importância da idade mental? Afinal para quê se precisa de uma garota jovem, bonita e com cérebro? Como em o cheiro do ralo: não importa, o que importa é a bunda!
Aí em certo momento depois de tanto bolinar “bundas jovens” o homem maduro passa a sentir falta de um bom papo – e quando digo bunda estou falando a respeito de mentes vazias. Mas, como poderia ser isso se o próprio Baudelaire dizia que “amar uma mulher inteligente é prazer de pederasta.” ?
Porém chega uma hora em que o algo mais é uma prioridade na vida. Já não basta mostrar pros amigos o troféu bebezinho, porque agora, ao contrário do que pensavam aos dezoito, eles já têm consciência de que não é só a questão da carne fresca que importa, o conteúdo também é bastante importante, e se puder unir os dois então maravilha. Segundo Leonardo Luz “depois do trigésimo ano de vida todo homem faz, inexoravelmente, dezoito anos de novo. E volta a querer bundas grandes, bundas enormes, bundas carnudas, etc. Exatamente como na adolescência. E arruma amante gostosa, paga plástica pra mulher e volta a comprar revistinha de sacanagem. E dos trinta aos cinquenta o homem se mantêm nos dezoito.”
Talvez isso seja até engraçado. No mais patético. Depois poético. Por fim, como dizia o ditado: “quem come prego sabe o cu que tem.”


Dica de livro: A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera e Caçada Implacável de Stephen Marlowe.
Ejoy them!


Obs.: Na foto Rutger Hauer.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Artificially sweet



What do you do when you know something's bad for you but you still can't let go?
I never had fear to be use for amusement.
But this time(...) I don’t know, I just can’t lost control.
I don’t want my steps leads me to one mistake - what did I do to deserve this? - Each beats of my heart reminds me you.
I’m lost! I’m about to break myself.
And only thing I need to do is walk away from you.
I can do it, can’t I?
Hope so.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009


Claro, como podemos amar um amigo podemos amar a felicidade. E podemos nos aventurar sonhos à dentro, mesmo com toda crueldade e sofrimento que possam existir. – o que nos resta além da aniquilação em massa que produzimos? Por que empurramos tanto lixo para dentro de todas as coisas? Devíamos temer que as porcarias que criamos nos corroessem com uma fome maior que o próprio nome. E devíamos ter vergonha, muita vergonha, de saber que nossa vaidade ultrapassa as barreiras do saudável nos transformando em míseros seres que cedem arriscadamente ao vício da mesquinharia. Não vou nem esticar o assunto sobre o reflexo pálido de quem só se importa consigo mesmo(...) esgotaria o fôlego.





É com temor que nos vejo entregando nossas almas milímetro a milímetro aos confortos da vida patética. Não quero permanecer cega no escuro, na aceitação, como se fosse uma ovelha cujo pastor seduz com chicote. Não posso afrouxar meu pensamento modelar e me quebrar caindo num abismo de futilidades. As pessoas estão se deixando corromper sem perceber que essa canção de destruição as transforma em ralé, colhendo trocados de desprezo.
Como eu gostaria que um raio de fogo e mel varado de luz atingisse a massa e a transformasse – já que o fogo tudo transforma – em criaturas ideais e encantadoras. Seria perfeito, divino, magnífico. E seria bom que fosse logo antes que o amanhã deixasse de ser pleno e belo, tornando-se fúria na forma mais hostil. Nossa loucura está perigosamente desfazendo o mundo em ruínas. Vamos nos tocar!

terça-feira, 27 de outubro de 2009


I’m trying to keep walkin’- this is so hard to me.
No fate could touch me again,the truth is more than you ever know.
I realized the wine has no taste without you by my side – when we danced to the rhythm of the band I knew the heaven is here (I remember when I saw you playing electric bass – just one time).
Right now there seems no reason for any of it(…) does there? – could you give me another life? No, I don’t think so. And I can do anything about our life, but I’m not done w/you either.
I get along anyway I care.
Or something like that.
How can I say, Bono?
"Hold me, thrill me, kiss me, kill me."
Doesn’t matter.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quanto as críticas.


Estive conversando com Junyor esse fim de semana e durante o diálogo fiquei esperando uma crítica ao meu discurso. Eu me dei conta do quanto gosto de críticas, mas de críticas com argumentos, gosto de saber como a outra pessoa encara o que penso, como ela se expressa, mesmo que eu não concorde em nada com ela. Para isso precisamos de uma noção boa do que estamos falando e, claro, de boa ótica – até porque as existentes e de maior visibilidade são sofríveis. Por um momento, digo, por um período recente me pareceu que a qualidade deixou de ser importante – estarei certa quanto a isso?
O fato é que eu adoro bons diálogos, adoro, adoro, mas as pessoas com quem poderia estabelecer esse tipo de laço estão tão sem tempo quanto eu. Em geral quando estou em uma reunião com amigos fico desnorteada quando todos começam a falar ao mesmo tempo. Eu ligo todos os meus sentidos procurando um tema interessante que alguém possa ter levantado em meio ao bombardeio de pessoas que só querem, que só precisam ser ouvidas – às vezes sem se dar conta que nada dizem. Ah, mas se detecto um assunto especial, acima do superficial então eu não relaxo. Espero extrair desse assunto o máximo o tempo todo.
Eu não tenho um gênero favorito para um bom papo – pode girar em torno de qualquer coisa embora tenha maior interesse por cinema e literatura. Gosto de pessoas que despertem o tipo de diálogo inteligente, maduro e com gosto refinado – aprendo muito com essas pessoas – tomara que esse aprendizado seja eterno.

Hoje vou terminar com uma sugestão de dois filmes hipnotizantes:
“Partículas Elementares” (2006) de Oskar Roehler e “Uma Jovem Tão Bela Como Eu” (1972) de François Truffaut. Ambos os filmes lidam com problemas emocionais profundos e apresentam uma verdade humana autêntica. Os atores mantiveram, sem dúvida, seu empenho ao máximo.
Espero que gostem.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Considerações.


Não consigo saber tudo o que se passa no mundo inteiro e não acho legal essa tendência de hoje. Acho que o bacana mesmo seria que as pessoas selecionassem o máximo possível aquilo que veem e leem. Há pessoas que parecem querer falar sobre tudo – como se fosse possível alguém entender bem de tudo – e acabam se perdendo no meio de uma conversa, pois nem elas lembram sobre o que estavam falando no início. Claro que eu tenho ainda muito disso – notem que me estendo com facilidade ao escrever sobre o que quer que me venha à mente – apesar de estar galgando a elite dos autores, ainda perco muito tempo com informações que, não só me interessam pouco, como não me acrescentam nada. Sofro por ter nascido num lugar com insaciável sede por auto-exposição. Sei que isso é muito provinciano. Mas realmente não consigo ir com calma, vendo o que de fato importa. Meu problema maior é não ter paciência (...) bem, ao menos eu procuro distinguir o atual do conservador. Ora, o que importa é ser governante de si, não se deixar rotular, monopolizar ou rebocar por velhos dogmas, clichês ou hábitos, é estar centrada em mim e não nos outros. As pessoas estão numa corrida desenfreada por informação e isso é deveras ruim. É uma competição onde cada um quer estar mais por dentro que o outro. Sei que ainda não fujo à regra: ainda sou assim, apesar de ficar tonta com esse marasmo de ideias. Sem isso acho que me sentiria deslocada. Resultado: entendendo um pouco de tudo não sei satisfatoriamente de nada! Meu consolo é saber que uma postura mais solitária me faz muito bem quando eu a adoto. E é a que tenciono seguir mais dia menos dia, uma vez que pude perceber com clareza dolorosa que estarei no caminho certo agindo dessa forma para depois de tudo acabar me sentindo perdida, como se Manoel Bandeira virasse o conselheiro do mundo depois que se descobrisse que as passagens pra Parságada estavam esgotadas desde meados do século passado.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009


Vejo as pessoas transitando pela janela e penso em mim circulando eventualmente pelo meio artístico. Sinto que eu poderia perfeitamente viver de forma a ultrapassar meus limites. A invenção de novas formas de agir na vida, para mim, faz com que as formas tradicionais percam a aparência de sagradas. Concordo com Antônio Cícero quando ele diz que “na poesia, não é a novidade que conta, mas sim o imponderável.” E ainda cita como exemplo Goethe: não escreveu o primeiro Fausto, mas fez o melhor. (Você já leu Fausto)?
O fato é que ainda não me tornei uma leitora muito seletiva. O que é uma pena, pois sei que não posso mais desperdiçar os dias, sobretudo por andar com absoluta falta de tempo.
Ontem folheei o livro de Menotti Del Picchia, que encontrei na estante, e fiquei a procura de um conto que me privasse do barulho que vem da casa vizinha – um aniversário talvez? Ah, meus pobres ardis. Reparei que isso de que não há diferença entre sentir-me feliz em meio a duas ou três pessoas, ou entre uma multidão frenética e saudosa por afeto não funciona comigo.
Por vezes sinto que a paixão me enlaça a cintura com grande beleza física e força sobre-humana. – Uma paixão vinda de personagens imaginários dos magníficos livros que lemos. Estou curiosa: qual foi seu último personagem favorito?






Na foto, Faust Fausto 1926 Cinema Alemão Clássico Cult baseado na Obra de Goethe.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Agora, por favor, não me peça o que não posso(...) eu sou apenas uma menina que resiste quando tudo se complica, e só. Minha história é simples, poderia caber na orelha de um livro. Amei tanto e a toda hora que com o passar do tempo criei o hábito de amar mais, de me apaixonar mais. Em certo momento Nietzsche escreveu: “é uma barbaridade amar uma única pessoa, pois é algo que se faz contra as outras.” Talvez esse pensamento reafirme a premissa bíblica de um dos 10 mandamentos que diz: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei.” Mas por que é tão complicado o amor mais sublime que o amor com interesse sexual? Por que dizer eu te amo não pode ser por afinidade de almas, sem cama? Por que não se pode ser apenas amigos? Por que não posso amar em paz e demonstrar esse afeto natural e espontaneamente já que amo muitos de diversas maneiras? Amo todos os meus amigos – tento amar também os que não são – mas, certamente, sempre fui seduzida pelo sabor de aventura que a vida oferece – mesmo por algo do cotidiano, pois, como li em algum lugar, nada precisa ser fantástico para ser bonito, o simples também pode ser belo. São formas variantes, na verdade, que estimulam a alma emotiva do ser humano, que permitem que ele esteja bem, e só quem não tem sensibilidade se atrapalha com elas. – Elas são grandes oportunidades de vivência, e de aquisição de sabedoria.
É maravilhoso quando a caminhada nos força a se enquadrar como num teste de sobrevivência. Já vi muita gente achando que o próprio sofrimento era maior que de qualquer outro, como se estivesse numa disputa onde ganha quem está pior. Acho isso uma bobagem. A vida é doce.
Bom, vou finalizar com uma frase do grande Kafka:
“Há em mim uma imensa saudade da vida não vivida.”
E que os céus continuem abertos.
Amém?
Amém!



Na foto, Radharani e Narayana.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009


INVASÃO.

Como é que podemos suportar esse olhar e baixar a cabeça sob o julgo do Criador?
Ele invadiu o recanto sem pedir licença,
segurou minha cabeça com as duas mãos e
ousou espremer meus lábios num beijo de desespero.
Não pude recorrer a adolescente que vive em mim.
Não pude correr depois do sorriso amarelo, nem esbofetear a face
envergonhada pelo ato insólito.
Foi loucura?
Sim, foi loucura.
Então, por favor,
nunca mais faça isso:

nunca mais estrague uma tarde de sol assim.



Obs.: Na figura temos a Galáxia Olho de Deus, também conhecido como Helix Nebula Eye.