Echo, echo, echo(...)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Insone



Ela chegava em casa após atravessar a cidade em sua bicicleta amarela. Abria a porta do quartinho onde morava. Sentia-se só – precisaria de uma terceira mão para contar nos dedos as noites em que não conseguia dormir. Não tinha uma carreira de sucesso. Não estudava. Não perdia o controle – um controle obviamente comandado pela depressão. Era insignificante dizer que ela não bebia mais café e não escrevia cartas de amor. Tinha dor de cabeça aos sábados. Quando dormia era mal vestida e nunca tinha sonhos de contos de fadas. Conversava entrelinhas. Era uma garota malvada. Gostava de jogos sexuais. Mas no outro dia estava sempre só.
Quando eu entrei na sua vida àquela madrugada fui apenas mais um: deitei em sua cama e rolei como um suíno em todo o seu confortável abraço. Quando estava esquentando vesti minha roupa e beijei sua boca espremendo-lhe com força os lábios. Então de repente ela estava só: o outro dia chegava rápido demais.

- Salvador Rios.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Foi Antônio Cícero quem disse que “com o passar do tempo, se você não publica, os poemas vão diminuindo de número e não aumentando.” Assim que li essa afirmação concordei. Minhas ideias – tanto as escritas como as ágrafas, tais quais as da elite artística, - também estavam sujeitas a um processo progressivo de erosão. Já não penso mais da forma que pensava quando escrevi meu primeiro conto, meu primeiro poema, meu primeiro romance.
Mudo constantemente o que escrevi porque mudo constantemente a mim mesma. Claro que tudo seria muito diferente se publicado: já não haveria o que eu pudesse fazer.
Houve um tempo em que me importava à maneira como os outros viam meu “trabalho”. Hoje em dia tanto faz se as pessoas especulam a respeito do que escrevo – desde que desperte o interesse de alguém que não tenha o ego inchado acho que não devo me preocupar.
O fato é que com o tempo passando, meus olhos já não querem fiscalizar a pilha de papel que sempre se acumula por cantos escolhidos da minha casa, seja por seu conteúdo que já não me parece tão útil ou porque já não existam mais resquícios em meus pensamentos sobre o que está ali diante de mim.
Às vezes fico tão chata, sem conseguir me concentrar para finalizar e organizar meus projetos que já não me interessa o que está em jogo. Isso sem mencionar os projetos a longo prazo.
Nunca quis presentear alguém com essas pérolas que escrevi – salvo duas ou três situações - por achar que não existam pessoas que possam compreender tais devaneios, principalmente ao usar meus personas prediletos: os masculinos. Quando uso pseudônimos fico menos tensa com o conteúdo vibrando da mente para o papel. São coisas perfeitas, íntimas, as mais corretas com que posso contar. E meus neurônios, minha alma e meu semblante são preenchidos com ar mais puro e só quem não é poeta não se sente assim.
Dei uma parada para essa reflexão, agora vou lá com meus lamentos e meus sorrisos.
Como diria meu pai: “Quem é bonito é bonito e quem é feio que Zidane ou faça gols!”

Obs.: para ler, www.blogomundointeiro.blogspot.com

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Homem Feio - texto 1


Olhei minha figura em frente ao espelho, depois espiei o amante roncando como um urso esparramado na cama. Passei as mãos nos cabelos e mirei a garrafa de conhaque de péssima qualidade na qual existia ainda dedo e meio da bebida. - Foi com temor que, recordando os fatos, nos vi, noite passada, entregando nossas almas, milímetro a milímetro, aos confortos da vida patética, tudo isso enquanto ele me enlaçava pela cintura e me dizia coisas sujas ao pé do ouvido.
Minha pele era suor e meu semblante aquela expressão que vemos no rosto de quem passou a noite embriagado rindo de tudo e de todos. Eu lembrava de absolutamente tudo.
“Puta merda, que foi que eu fiz?” Vazio, culpa, imprudência, negligência, falta de cuidado.
Senti um formigamento se espalhando pelo corpo. Fui tomar banho.
Esperei ainda quarenta minutos para o urso voltar do coma alcoólico, com um suspiro longo e o olhar estúpido, provavelmente se perguntando “onde é que eu estou?” Embriaguez pós ordenada, sonolência, dependência, submissão tardia, consciência do ser.
Eu disse: “E aí?” mas eu só queria dizer que estava ali por inconveniente acaso. Também quis dizer que ele havia sido uma bosta na cama e que eu não tinha sequer gozado. - Enquanto ele me despia devagar eu nem ao menos cogitei desencorajá-lo: tropecei para os limites da cama e covardemente deixei que ele caísse por cima: ele me deu uma lambida no rosto e pôs dois dedos dentro de mim. Fiquei só no pensamento, empunhando palavras imaginárias que machucam, apenas por hábito. Por quê? Porque de outra forma não seria eu mesma, nem poderia viver coisas como as que vivi e vivo. Desabamento, firmamento, período, folhagem no jardim, céu clareando, sossego e sossego excessivo, sossego de ruína e minha própria voz sufocando de longe o que sinto.
Quis perguntar coisas. Contentei-me com um: “dormiu bem?” Não sei porque perguntei isso – certamente a imaginação é mais profunda que a realidade.
Meu problema com a paciência ultrapassou o sinal vermelho com força quando ele demonstrou clara falta de interesse em me dar prazer. Eu o empurrei com o braço esquerdo: “não tenho tempo para pessoas entediantes.”
Espero de coração que ao encontrar esse amante de novo eu consiga, com a prática que tenho, sanar esse mal entendido com essa casualidade e minha falta de resignação. Entre mortos e feridos estou eu afinal.
Ergui-me e vesti a roupa.
Sentei-me no sofá da sala e tomei a liberdade de ligar a televisão na esperança de saber que time havia ganhado o jogo. De repente ele apareceu já todo alinhado com seu all star vintage nos pés. “Vou embora.” disse quando minha mãe chegou com o almoço e olhou para ele: “Você é namorado de qual de minhas filhas?” Ele olhou para a tela do celular, como se procurasse a resposta, depois falou sem sorrir: “Namorado? Não. Eu sou um amigo do arraiá da semana passada.” Eu me danei a gargalhar: “Como é que é: Um amigo do arraiá?! Que resposta moderna, hein, palhaço! Qual seria o próximo passo? Pedir o que eu não posso?”
Ele aceitou almoçar, não tinha o mínimo brio. Mas eu sou uma garota surpreendente, feita de teflon: pode jogar lixo em mim a semana inteira que não vai grudar.
Eu revirei meus olhos quando nos sentamos lado a lado na mesa. E ele lá com o celular na mão aparentemente sem perturbação alguma. Revirei os olhos mais uma vez, como quem revira faca na ferida já em processo de cicatrização.
Eu não quis permanecer cega no escuro, na aceitação, como se fosse uma ovelha cujo pastor seduz com chicote. Não poderia afrouxar meu pensamento modelar e me quebrar caindo num abismo de futilidades, então eu me concentrei em resistir quando a situação se complicava, e só.
Durante a refeição: minha mãe e suas perguntas, o amante e sua postura incomum.
A ladainha que estava presente durante o almoço os transformava em ralé, colhendo trocados de desprezo. Ah, como eu gostaria que um raio de fogo e mel varado de luz atingisse a mesa e os transformasse – já que o fogo a tudo transforma – em criaturas ideais e encantadoras. Seria perfeito, divino, magnifico. E seria bom que fosse logo, antes que o amanhã deixasse de ser pleno e belo tornando-se fúria na forma mais hostil.
Não pude evitar a constatação de saber que nossa loucura estava perigosamente desfazendo nosso mundo em ruínas. - Tínhamos de nos tocar! - Nem pude evitar o pensamento com as palavras de Nietzsche boiando em minha cabecinha de vento e terra. Em certo momento, entre uma garfada e outra, declarei-as: “É uma barbaridade amar uma única pessoa, pois é algo que se faz contra as outras.” Talvez esse pensamento reafirme a premissa bíblica de um dos 10 mandamentos que diz: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei.”
Mas por que é tão complicado o amor mais sublime que o amor com interesse sexual? Por que dizer eu te amo não pode ser apenas por afinidade, sem cama? Por que não se pode apenas ser amigos? Por que não posso amar em paz e demonstrar esse afeto natural e espontaneamente, já que eu amava muitos e de diversas maneiras? Por um motivo deveras simples: porque tudo que o ser humano faz, ele faz com a intenção de dominar o outro.
Certo, certo. Sei que essa dificuldade esplanada agora, seria também minha própria dificuldade já que eu havia dormido com um, aparentemente, “amigo do arraiá da semana passada.” - sempre caindo no mesmo erro, sempre sendo seduzida pelo sabor de aventura que a vida oferece – mesmo algo do cotidiano, pois sabia que nada precisa ser fantástico para ser bonito, o simples também pode ser belo. Tive a impressão de que, além de estar falando sozinha, eu estava pensando sozinha.
Olhei para o meu amigo tentando evitar o revirar de olhos que insistia em se tornar habitual. Daria 1 real se ele se mantivesse gentil; 2 reais pela tentativa de se manter gentil; se nada acontecesse daria um pontapé em seu traseiro(...)
O amante terminou de comer, ensaiou levar o prato para lavar, eu disse “deixe aí(...)” e ele, claro, deixou. Depois, num rompante de sobriedade, levantou-se e lavou, não só o prato onde havia comido, como também toda a louça que estava suja na pia e na mesa – e isso me fez perceber que são formas variantes, na verdade, que estimulam a alma emotiva do ser humano, que permitem que ele esteja bem, mesmo um estúpido como havia sido, horas antes, esse amante, - e só quem não tem sensibilidade se atrapalha com elas – elas são grandes oportunidades de vivência, e de aquisição de sabedoria até para quem não as procura. – Eu havia acabado de perder 1 real.
O fato é que “o amigo do arraiá” agora lavava a louça do almoço na casa onde eu morava.
Não é uma maravilha quando a caminhada nos força a se enquadrar? – Como num teste de sobrevivência. Eu já havia visto muita gente nessa situação: meu “amigo” era um charlatão fértil.
Minha mãe pediu licença e foi para seu quarto descansar um pouco do almoço. O amante passou o resto da tarde comigo. Idiota.
Ele agia como se fosse seu último dia na casa de uma tia que visitava: com cordialidade. Eu quis fingir desprezo, então na hora do fingimento eu falhei, por isso eu chorei: por me importar demais.
O efeito da bebida havia passado fazia horas e eu que desejava paz indescritível, repouso, êxtase, eu que era a menina que resistia quando tudo se complicava, consegui ser a tia de um amante que era um suposto amigo que eu havia conhecido num arraiá qualquer da semana passada.

- Narayana Ribeiro.

Obs.: texto publicado originalmente em: http://beatbrasil.blogspot.com

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Canção de encanto.


Perguntaste se eu vinha do abismo ou do paraíso magnífico.
Disseste que meu olhar era sublime e atroz.
Que eu fazia parte do que é justo e do que é nocivo.
Mas, tu achas que venho de onde?
Que desço do fundo dos céus? Que venho de uma sombria sepultura?
Pois eu digo que meu cão fiel, que me segue em minhas caminhadas, é o destino que semeia alegria e tormento.
Se estou triste, minha genialidade se esvai ao longo das lágrimas em fio.
Se tenho saudade, tenho-me insana.
Não sinto preocupação com o peso das noites insones.
Nada é pesadelo e tudo está sempre pronto.
Então tu me perguntas como podemos saber que agimos certo.
E diz que nós estarmos felizes parece incomodar.
O que me importa se somos sossego ou tentação?
O que me importa se nossos corações estão malogrados ou satisfeitos?
Se estamos transpassados pelo amor?
Fecha as aspas do pensamento.
Abre os olhos para se encontrar.
Entenda que somos o que torna a humanidade menos fútil e a existência menos feia.
Que fazemos a vida doce.
Que fazemos o mundo bom.
Entenda que não basta passar e sim construir.
E ser.
Sempre.

Obs.: na foto, as belas, Radharani, Narayana e Marina - respectivamente.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pensamento Coiceiro do Ato de Cogitar


O desastre que a lucidez pede é inevitável: sempre há um preço a ser pago.
Desde sempre soube disso.
Não gostava de meus versos por puro instinto – eles eram consumidos por meus torpores não executados.
Se olhava de repente para o meu verdadeiro EU, escutava o sopro de meu pensamento transformado em voz – e não era incoerente, antes disso e num instante, era espontâneo e infinito.
Hoje adormecerá cedo e abrirá os olhos tarde.
Terá tudo como sempre foi.

O demônio indiferente da juventude ainda estará quente, arrebanhando novos seguidores.

Se perguntava qual seria o ápice da insanidade.
Quando chegou o momento de deixar livre sua própria opinião, arrastou-se equivocado através dos becos imundos do bairro onde morava.
Soube, por ventura, que os avanços e solavancos de uma vida exaustiva de orgias estava no fim.
Não se convencia de que o espelho estava certo e sentiu pânico por permanecer Dorian Gray.

Iria abrir os olhos ao anoitecer sabendo o quão desastrosa a lucidez pode ser.
Os loucos são sempre mais felizes.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

(Re)comendo


Para acessar e acessar muitas vezes:
http://laetitiadigital.blogspot.com

Para ler:
Voy a dormir da argentina Alfonsina Storni

Para ouvir:
Poema dos Olhos da Amada cantado por Jeanne Moreau e Maria Bethânia


Para assistir:
In the Cut (Em Carne Viva)com Meg Ryan - 2003.

E para fechar com chave de ouro maciço, um poema:

Em lugar de uma carta

Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto —
um capítulo do inferno de Krutchônikh. (1)
Recorda —
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração — aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua .
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
— duro fardo por certo —
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos — rodopiante carnaval —
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

-Maiakóvski -Vocês poderão encontrar mais de um trabalho bacana por aqui:
http://pontispopuli.blogspot.com Enjoy!

Obs.: Na foto, a legitima francesa, Jeanne Moreau.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Prudente.


E se eu dissesse que não sou nada do que vocês pensam? Que não sou direta, que não sou comum e que não me perco fácil?
Não respeito o que é puro, mas reverencio a verdade: sou aquela que honra o caráter. Não encontro Deus senão a partir de mim mesma e de uma vez por todas deixo claro que só a vida me submete.
Sou meu infinito, meu intelecto, meu motivo, meu espírito, meu corpo. Nada me move senão por paixão. A doçura de minha tristeza é como o silêncio no infinito do meio espacial. Meu EU único se altera de acordo com meus outros tantos eus. À medida que causo encantamento, causo medo. Nunca meu caminho adivinhou poucas coisas sem a precaução de um amor incondicional. E assim posso chamar-me A Prudente.


Obs.: na foto, meu EU de olhos abertos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

(Re)comendo


Para acessar e seguir:
http://poetasilverioduque.blogspot.com/

Para assistir e conhecer:
Farinelli, Il Castrato - 1994

Para ler e compreender:
Lenda das Pedra Verdes, Henriqueta Lisboa

Para ouvir e experimentar:
V da Verdade da banda Manzuá.

Obs.: na foto, cena do filme "Farinelli, Il Castrato."

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Você é um anjo com medo também.


Os anjos também podem ser demoníacos, Narayana Ribeiro.
E se eu quiser saber mais sobre você e suas ideias angelicais, se eu quiser saber de teus gritos inconsequentes noite a dentro, querendo ver você ao entardecer ensurdecendo tudo que existe em mim, aí serei só eu, Narayana Ribeiro, somente eu morrendo de frio no calor do teu verão, sendo empurrado ladeira abaixo, estranhando tudo aqui, nesse teu mundo de encantos.
E poderia tirar o foco de seu sorriso enfim, quando você virasse as costas e seguisse caminhando, eu, já fora de mim, por pura intuição, escreveria uma canção. Falaria sobre a percepção clara do teu ser, sua face de traços retos, sua forma imediata de verdades - sem necessidade de intervenção do raciocínio.
Você que já é a inversão da própria rotação, você para quem rezo uma oração, que me preenche os dias inúteis e que faz a lua despencar diante dos próprios pés: devolva meu chão para que eu caia tranquilo, porque assim dessa forma, Narayana Ribeiro, dessa forma eu te tratarei bem, pois sei que os anjos podem ser demoníacos, mas sei que eles temem também.

-Salvador Rios.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

(Re)comendo


Hoje vou fazer uma recomendação para que vocês possam conhecer o mínimo do fantástico mundo de um dos meus "amores": Boris Vian.
Esse francês poeta, escritor, músico, cantor, tradutor, crítico, ator, inventor, engenheiro(...)o que mais posso dizer? Sua inflência no cenário jazzístico francês é marcante.
Boris Vian é um génio incontestável, seja em que campo for. É-me sempre complicado definir alguém assim, e acho que esse é um problema comum, afinal com tantos atributos, quem conseguiria(?). Então já que não posso definí-lo me atenho a amá-lo incondicionalmente. Isso sempre me bastou.
Estou ouvindo "On n'est pas là pour se faire engueuler" no momento. Espero que vocês gostem dessa música e se já conhecem, nossa, que bom.
E vocês também podem ouvir "The Maker Makes" do Rufus Wainwright.
O post de hoje é curto porque estou me curando do final de semana violento.

Obs.: na foto, Boris Vian, mais vivo do que nunca.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Espero tudo de um sábado à noite.


Estive confusa enquanto esperava que algo extraordinário acontecesse.
Esperava que os finais de semana não fossem os únicos dias de diversão: eu me deleitava em ser a única que não passava de recreio dentre tantas concubinas.
Estive indisciplinar. A cada semana, os sábados me encontravam mais irresistível. Eu estava sempre cheia de viço, em toda minha extensão, frívola como quem escreve sem reparar na coerência das frases.
Meus melhores dias são os sábados: posso me ver esperando por esse dia a semana inteira na esperança de que venha sempre igual.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Conversa de fora de tempo


Concordo com Xico Sá quando ele diz que ao final de um relacionamento devemos excluir de nossa rede social os ex-afetos.
Se bem que eu não concordava com isso quando tinha meus vinte e poucos anos: achava que seria imaturo de minha parte não continuar com a amizade. Hoje em dia eu simplesmente não tenho mais tempo para ficar de picuinha, então ao terminar um relacionamento, faço exatamente como o texto manda: me transformo em Lola e corro!
Conheço um “zilhão” de pessoas que fica fuçando por tempo indeterminado o profile do ex no orkut, facebook, hi5(...) Isso é realmente uma bosta. Afinal de contas, para quê ficar antenado no que já foi? Só para sofrer mais.
Ninguém merece saber que o ex não está amargurando o rompimento da relação, é insuportável estar do outro lado da canção que diz “Olhos nos olhos, quero ver o que você faz ao saber que sem você eu passo bem demais.” Isso aí: o que se há de fazer ao saber que a outra pessoa passa bem demais sem você? Diz aí fuçar as fotos dos últimos eventos para onde o ex-objeto de desejo foi e perceber que a fila andou? E cair na real que a fila andou e não foi para você? Que ele ou ela está com alguém mais interessante e mesmo assim não se conter nas rodas de amigos fazendo observações do tipo “Nossa, essa pessoa que fulano arrumou depois de mim é a maior baranga.” E se for um comentário masculino, deve ser a perdição quando se diz algo do tipo “Nossa, Viram o fulano com o qual ela está saindo agora? Mó cara de otário.”
Mas eu nem sei o que é pior: saber que a ex-pessoa da sua vida está com alguém mais interessante ou saber que esse ex-afeto está com alguém ridículo. Na dúvida é melhor não procurar saber enquanto não tiver saído da possível fossa.
Certo, certo: existem os que nem na fossa estão e que mesmo assim acabam cedendo a tentação de fuçar a vida do ex, prendendo-se a esse tipo de comportamento que é deveras humano, irracional, normal e babaca.
Na fossa ou não, senhores, é melhor fugir disso.
Pois é, a única coisa a ser feita, além de excluir a ex-cara metade da sua rede de relacionamentos virtual, é chorar, chorar, chorar novamente, enterrar o morto e partir para outra. Isso sim, é comportamento louvável.

Encontro convencional


Eles se falavam por telefone há tempos - Já que ele não podia abarcá-la por causa da distância.
Um dia eles decidiram que tinham de se encontrar. Ele disse querer roubá-la só para ele durante quatro dias.
Ela disse que todos, cedo ou tarde, têm esse pensamento sobre ela.
Marcaram de se encontrar uma semana depois.
Ele foi até a cidade dela de ônibus e ela o guiou, por telefone, até seu próprio apartamento.
Ao chegar lá, ele viu garrafas vazias pelo quarto. Garrafas de vodca ruim, de cachaça barata, de cerveja long neck e nenhum copo.
Ele pensou: "Meu Deus! Será que ela bebia no gargalo?! Será que aquelas garrafas representavam a odisséia de suas madrugadas boêmias?!"

Ele deixou as malas de lado e abraçou-a com fúria.
Ela mostrou-lhe o banheiro e enquanto ele tomava banho ela preparou o jantar e abriu uma garrafa de vinho.
Eles conversaram alegremente na sala. Depois foram juntos para a única cama que existia no apartamento.
Fizeram sexo urgente, cheio de ruídos, e depois fizeram um tipo de amor sublime, como se apenas eles dois conhecessem os mistérios da paixão.
Ela disse:
- Muita coisa boa me aconteceu quando eu namorei uma filósofa.
Ele:
- Você já namorou uma mulher?!
Ela:
- Fisicamente não. Namorei as ideias dela.
Ele:
- Ah.
Ele novamente:
- Você pode guardar um segredo? Eu também já namorei um filósofo.
Ele foi embora quatro dias depois.
Ela ficou.
Eles se falam por telefone há tempos.
Um dia decidiriam se encontrar de novo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Abro os olhos ao dormir


Abro os olhos ao dormir
depois
Fecho os olhos
trilho caminhos invisíveis e sigo minhas próprias pegadas em frente
(fecho os olhos ao amanhecer e encerro a vida com bocejos inúteis)

O dia acaba
eu subo as escadarias que me levam aos céus e me sinto divina

O dia acaba
eu pego as asas que havia guardado no armário
sinto meus ombros livres da tensão real

O dia acaba
A noite chega
Eu abro os olhos.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Questão memorável?


Acho massa essa garotada que se mete a escrever desde tenra idade. Sempre que posso, dou meu incentivo direto, mesmo sabendo que não dá para se ensinar a ser um gênio literário - ou você é ou não é - mesmo assim, eu sempre que posso, dou meu incentivo direto para a molecada, afinal de contas tentar com todo afinco escrever poemas em plena pré-adolescência hoje em dia é prática incomum tanto quanto escrever à mão – claro que não omito minha opinião sincera, quando requisitada, mas tento suavizar o quanto posso, pois mais me interessa alguém que não escreve bem ainda, mas que pode divulgar essa prática o quanto antes em vida, a pessoas que mal leem, mal veem e mal escrevem e que vão repassar o pensamento para as próximas gerações de que sendo assim, ignorante, também se vive bem, criando dessa forma coxos mentais.
O que eu poderia dizer em desfavor de criaturinhas tão fofinhas, impulsivas, imaturas, egoístas e complicadas como qualquer um já foi ou será ao menos uma vez na vida? Disseram-me que sai muita bosta de cabecinhas assim tão jovens, mas, Senhores, quem somos nós para criticar ferrenhamente qualquer pessoa que tem peito suficiente para fazer algo que se acha capaz? Eu respondi que sim, é claro que sai muita merda de cabecinhas assim: são poucos os que nascem prontos, eu mesma tenho plena consciência de que não estou pronta – e nem sei se estarei nesta vida – preciso amadurecer muito, muito ainda.
Então eu pensei “por que não dar uma força para a galerinha?”
Visitei blogs com poemas cheios de erros ortográficos grotescos e de escolha lexical pobre, e que fique registrado que isso não foi privilegio de crianças apenas, tinha muito adulto escrevendo bobeira como se fosse grandioso e com muitos seguidores iguais.
Pois é, visitei esses blogs e nem me abalei com os mais jovens. Quanto aos adultos eu apenas pude pensar que poderiam escrever e ler melhor se esse costume fosse inoculado às suas rotinas quando eles eram bem meninos ainda. - Infelizmente vivo num país onde o hábito da leitura ainda causa prazer há uma pequena e distinta parcela da população – mas estou sempre em prece para que isso mude.
De qualquer forma continuarei dando força a quem quer se dedique no enveredar pelas vias literárias. E aos que me disseram que dessas cabecinhas sai muita bosta, e nada fazem para contribuir para que essa mesma merda seja evacuada, peço que não se atenham somente a isso: o que julgamos como muita merda durante a infância, e ainda na adolescência, com o incentivo certo pode valer ouro no futuro. Acho sinceramente que o caminho é esse.
Ora, senhores, de que vale pensar tão imenso e optar por não dividir essa imensidão com ninguém?

Shit up – mad girl's questions letter


Shit up – mad girl's questions letter

Somebody told me that every negative situation contains the possibility for something positive.
That time I thought "bullshit!" but now I know It is how you look at it that matters. You have advantages and resources forcing you to be a more inventive with the little that you have.
Okay, okay. Sometimes I agree with and sometimes I don't, 'cause I know I'm just a girl lookin' at the moon in front of the sea – the world still can wild to me.
If God is real why is he indifferent to the love that may hit You and me or to death our good acts?
If there are circumstances We cannot control, do We just need to make the best of them? But when my best is not your best? Or just when the best to me is different about your point of view?
I can try to explain (why not?) my mind have chooses to interpret all this crazy words...
What is positive... What is negative... Anyone have thoughts?
I feel something is perfect strange, but just because you have fear to say how I am so important to you, We are livin' a deeply sorry. - and I can fix anything.
Turnin' shit.
Our natural tendency is to interpret our relationship like something wrong – Oh, if we have courage to say "I miss you." But I don't wanna be a temporary obstacle for you. (I just wanna say goodbye if you need to).
I have my crises.
You have your crises.
You said you don't like bad stuff (you should be where I am)
I said I love you (How could this have happened)?
Really: I can be fine by your side. (Did you say okay?) - if you can't say anything, what more We will do? To get married?
I would change anything for you, wouldn't I? But not myself (or am I just goin' crazy here, my dear)? WHO ARE YOU?
Please, don't let fears make you wait for a better moment.
I don't have the luxury of waiting for a long, you know? So gimme my answers.
Anyway, take your time.(But remember that I will not be waitin' you forever).


PS.: A song, "Hoy No Quiero Verte Nunca Mas" - Franny Glass.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Oração (antiga).


Senhor,
Que meus projetos pessoais surjam muito bem amarrados à minha disponibilidade;
Que eu exale talento e criatividade bem concebidos e iluminados;
Que nos salões aonde eu raramente vou sejam mais bem frequentados por pessoas que se socializem e travem consigo mesmos e uns com os outros embates sentimentais e humanos que me deem uma profundidade inesperada;
Que o contraste entre a depressiva trilha sonora de minha vida e a inventada e atraente forma de agir dos medíocres não me atraía para sua teia central;
Que o sexo seguro apareça integrado às vidas das pessoas;
Que os babacas de plantão deixem de se chocar ou excitar com situações comuns ou com eventos que digam respeito à intimidade alheia (ao invés disso procurem ajudar o próximo (qualquer lavagem de roupa também é válida);
E que a tristeza, o vazio e a solidão de muitos dê lugar às pessoas interessantes, inteligentes, distintas e sexy, que sei que existem e devem estar em algum lugar;
Por fim, que eu mesma mude e que minha mesquinhez e meu egoísmo deem lugar a uma mulher segura e de caráter inteiriço que saiba ter nas mãos as alavancas de comando que vêm junto com a maturidade;
Que eu saiba dar as cartas do jogo.
Amém.

Obs.: é uma oração antiga, mas que vigora ainda hoje.