Echo, echo, echo(...)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Abro os olhos, mas tenho sono, senhores(...)*


Estou incomodada com a sequência inicial de sonolência que se inoculou em mim tal qual uma doença e que não quer mais me deixar em paz: se estou no ônibus, estou com sono, se estou num carro, estou com sono. Sou capaz de dormir em pé(...)* (ao menos minhas dores nos rins foram embora).
Acho que os senhores não podem nem imaginar como esse sono está atrapalhando minha maratona de afazeres diários. Meus dias estão passando como se tudo que eu tivesse que fazer estivesse se embaralhando e acumulando num mosaico bastante colorido e confuso. Mas calma lá, essa sonolência não se trata de ações inconseqüentes: é que tudo que devo fazer é tão urgente e prazeroso que não pude conter minha excitação sabendo que se terminar tudo no menor tempo vou poder desfrutar de férias tão merecidas quanto se estar apaixonado faz bem à saúde.
Continuo lendo Trotsky, digitando meu livro para a revisão, escrevendo meus contos e poemas, e, ah, a novidade desse final de semana é minha nova tatuagem: If you can’t sing it, You’ll have to swing it. – frase da Ella Fitzgerald.

Obs.: consegui apenas duas almas esse fim de semana. Saldo mínimo, porém positivo: thumbs up!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Momento ìntimo


Encostei minha cabeça em seu peito como forma de terapia.

Fiquei lá todo indefeso, incapaz de impedir o que você queria fazer, tendo de agüentar você sendo má – eu sei que você sabe como fazer isso.

Então adormeci e tive um sonho parecido com o de Jacó: anjos andando por uma rampa nas duas direções, descendo do céu e subindo até ele.

Quando acordei minha cabeça já não estava em seu peito, nem você estava mais lá. Seria possível negociar com Deus?

“E para que serve a alma se não a puderes negociar?”- era o que tinha lido num daqueles livros silenciosos que me encaravam diariamente.

E aí se formou um estranho alarido dentro de mim e eu quis te telefonar para saber como estava, o que me foi assustadoramente estranho

já que nunca me importei realmente com isso.

Eu liguei, mas ninguém atendeu.

Então eu virei para o lado e dormi. Decerto amanhã tudo estará bem.




-Salvador Rios*, 2005.


Obs; Salvador Rios é pseudonimo de Narayana.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009




Obs; piadinha interessante que vi no site do Dr. Pepper.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Oração


Senhor,
Que meus projetos pessoais surjam muito bem amarrados à minha disponibilidade;
Que eu exale talento e criatividade bem concebidos e iluminados;
Que nos salões aonde eu raramente vou sejam mais bem frequentados por pessoas que se socializem e travem consigo mesmos e uns com os outros embates sentimentais e humanos que me deem uma profundidade inesperada;
Que o contraste entre a depressiva trilha sonora de minha vida e a inventada e atraente forma de agir dos medíocres não me atraía para sua teia central;
Que o sexo seguro apareça integrado às vidas das pessoas;
Que os babacas de plantão deixem de se chocar ou excitar com situações comuns ou com eventos que digam respeito à intimidade alheia (ao invés disso procurem ajudar o próximo (qualquer lavagem de roupa também é válida);
E que a tristeza, o vazio e a solidão de muitos dê lugar às pessoas interessantes, inteligentes, distintas e sexy, que sei que existem e devem estar em algum lugar;
Por fim, que eu mesma mude e que minha mesquinhez e meu egoísmo deem lugar a uma mulher segura e de caráter inteiriço que saiba ter nas mãos as alavancas de comando que vêm junto com a maturidade;
Que eu saiba dar as cartas do jogo.
Amém.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Sábado a noite, pedi uma pizza e uma puta.
A última trouxe a primeira.
As duas chegaram frias.
Não pude reunir entusiasmo para comer nenhuma.
No dia seguinte, uma foi embora no taxi,
outra na caixa.
A pizza, meia muzzarella, meia calabreza;
a puta, meio portuguesa, meio vegetariana."

-Sânzio Barreto.

Sobre o dinamismo de Narayana

Escrevo desde sempre. Desenho desde sempre. Também distribuo chicotadas para quem passa e me saúda - apenas por hábito. Amo cinema, quadrinhos eróticos, dança e música de cabaré. Teatro também me apetece. Sou oriente que desorienta. Olhos pequenos formando riscos ao sorrir. Sou vaidosa – pinto meus cabelos de vez em quando, e como carne.

Outro poema (desta vez persona masculino):

Tinha acabado de ouvir Nat King Cole em compainha dela. - Ela sempre me deixava recorrer ao seu corpo. - O vinho e a pouca luz ajudavam a me fragilizar. Então eu passava a mão em seus cabelos e perguntava se podia dormir um pouco antes de ir embora.
Sempre me achei um tolo por me apaixonar tão facilmente.
Gostava tanto de tudo que no final não podia dar assistência e nem podia ser infiel às minhas necessidades de liberdade, pois estava sempre preso a tudo. - Sabia disso tanto quanto Florence ser milhardária e péssima cantora.
Mas sempre tinham esperanças de que eu mudasse a minha forma de agir. Ao invés disso eu sucumbia a qualquer mulher que se aproximasse tornando-me um sujeitinho tacanho e espetacularmente disputado. Estava sempre disponível para o amor e para o vinho. Saia-me bem ao caminhar pelos pedregulhos entre as palmeiras imperiais, vendo milagres com meus próprios olhos, sob minha ótica. - Aqui eu parava em frente ao meu apartamento, menor que uma biboca, e me lembrava de sua inocente forma de encenar. - Eu deixava que você voltasse a me procurar, a mim o anti-herói, o cafajeste original. Não conseguia evitar agir assim: (acho que) sempre foi mais forte que eu.

-O Amante Fiel, Salvador Rios.

Obs.: “Prefiro a língua do povo à gramática dos medíocres.” (José Lins do Rego).

Obs.2: Salvador Rios e Justine Febril são dois de meus pseudônimos. Espero que vocês, senhores, gostem.

Obs3: Dica de filme: Germinal de Emile Zola, para quem gosta de história e Shortbus de John Cameron Mitchell, para quem tem o dom de enxergar as pessoas sem preconceitos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Poema:

Aquele dia estará guardado entre minhas lembranças mais doces. Você estava tão distraído e belo de costas para mim. Senti um leve perfume quando você entrou na sala. Esperei que passasse por mim e vi seu contorno através da roupa que usava. Acho que me apaixonei ali mesmo naquele momento. Pensei algo sobre o relevo fantástico que suas costas têm. E suspirei ao ver seu rosto. E você não falou ou sorriu. Não precisou. Depois eu também nada disse. Mas olhei e sorri em sua direção e você adivinhou-me o pensamento, com o cenho coberto de rubor. Aquele dia foi divertido? Conte-me mais sobre nós. Aqui hoje serei toda ouvidos.
(...)

(...)
Estive pensando em momentos breves de liberdade que tive outrora. Hoje sou dona de mim e de todas as outras que habitam minhas liras. Tento não falar em amores fúteis e deixar que minhas bocas beijem as palavras livres como ventania desenhadas no papel. Ontem fui aquela que se deitava com o corpo sujo de aventuras constantes. Nunca adiantou, nunca pude escapar de nenhuma mim. Calei tudo antes por não estar habituada a ter o que dizer: eu não gosto de me explicar. Mas a manhã não está tão cinza assim para que eu e minhas versões estejamos tão angustiadas. Tenho urgência de tudo agora como nunca poderia ter tido antes. Doravante quero que saiba que minha estima por sua pessoa vai muito além de tudo aquilo que propus no inicio: eu amo você.

- Carta a você sob leve efeito de álcool, Justine Febril.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mais sobre mim - novamente, sim.


Procuro ater-me aos fatos para não ser conduzida a conclusões apressadas. Como já havia dito antes, não acredito em nada que leio e ouço, e somente em metade do que vejo, pois não gosto de me apresentar rastejante diante de fatos mal compreendidos – isso é para mim verdadeiramente odioso.
Minha falta de conhecimento e experiência de vida por vezes me levaram ao julgo limitado dos tolos – não quero isso nunca mais, sobretudo por saber que julguei mal e em contra partida fui mal julgada. - O que eu poderia fazer quando eu me sentia plenamente capaz de me movimentar ao generalizar as coisas?
Ora, senhores, eu realmente nunca poderia continuar sendo uma radicalzinha de merda que ainda por cima era leiga – minha ótica nada tinha a ver com embasamento teórico ou qualquer outro tipo de lógica que fosse aceita e sim com o fato de eu querer ou não agir dessa ou daquela forma (tudo dependia sempre da dor de barriga que eu sentisse no momento).
Hoje minha aversão por tudo que é luta mesquinha e que não está lógica e ideologicamente formado é o que faz de mim uma Narayana que busca, em todos os domínios, sem exceção, estar viva e deixar viver.
Essa minha personalidade já se manifestava enquanto adolescente e embora somente agora eu consiga enxergar com um pouco de clareza, gostaria de aprender mais sobre esses pensamentos que me vêm e que com certeza marcarão o resto de minha vida. Conhecer-me a fundo será minha primeira lição elementar.
Não desconfio das generalizações, mas não as busco. Decerto que ainda sou vitimada por elas, porém continuo caminhando e já não procuro descansar à sombra de minha própria espada.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Era uma vez um pintinho chamado Relam.
Um dia choveu e Relam piou.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Parece Piada mesmo.


Estava com uma puta dor nas costas, e eis que o Big perguntou: “Onde é?” Então eu disse que era no final da coluna do lado esquerdo e ele respondeu: “Ih, acho que o problema não é nem na coluna nem nas costas, minha filha, é nos rins.” Eu disse: “Mas as palmas de minhas mãos estão com uma aparência tão saudável.” E ele respondeu: “Hã, será que é porque, tipo, o órgão que está relacionado com as mãos é o fígado?”
Podem rir, senhores. Eu mesma nem lembro quando foi que eu parei.
Por outro lado todo o meu riso foi dando espaço à consciência de que devo ficar bem, no pleno sentido da palavra – ora, se vou morrer um dia que eu pare então de me limitar, nas minhas ações, por considerações que não a da simples utilidade à boa causa – vou me enveredar através dos objetivos pessoais , mesmo sabendo que a empreitada será, em termos rigorosamente práticos, árdua e penosa, pois viver num mundo onde a onda de todos os tempos é o falso moralismo, equivale a dizer que quem age de forma contrária é causador de asco, crivado de balas, julgado e morto.
Estive durante muito tempo me sentindo como Leon Trotsky cujas qualidades de nada serviam – ao contrário às vezes já atrapalharam. Vou me concentrar para dar um basta nisso. Para tanto a ideia e o ato devem ser dois vasos que se comuniquem, mesmo que nem sempre contenham o mesmo conteúdo para a formação da futura criatura Narayana.
Quero manifestar minha voz e meus atos.
Começarei pelos rins.

sábado, 14 de novembro de 2009

Teoria X Prática (ou não prática).


Art. 1° Republica Federativa do Brasil
Fundamentos:
I – Soberania;
II – Cidadania;
III – Dignidade da pessoa humana;
IV – Os valores sociais do trabalho e da iniciativa humana;
V – Pluralismo político;

Obs.: A teoria é linda – quando puder ser unida à prática será perfeito!
Nota (gigante):
Todos os dias ouço dizer que eu, em termos de imagem que passo, posso ser tomada basicamente como uma garota moderninha de gênio forte e sorriso maroto. Mas é uma definição que limita cruelmente a minha estatura, prendendo- me a um ponto de referencia que, como força ideológica e dimensão humana, não me faz justiça. As circunstâncias mais dramáticas e mais divulgadas de minha vida são abordadas por pessoas que sequer têm laços de amizade comigo, pessoas estranhas, colegas em suma, – e eu sempre combatendo isso com tamanha concentração e obstinação durante tantos anos – que se formou como que uma dependência dos outros em relação a mim. Não compreendo como é tão fácil julgar e condenar baseado em circunstancias tão superficiais. Não acho que eu deveria despertar tanto interesse, mas ainda assim desperto. Eu deveria ser mais ou menos como um parágrafo em que se encontrariam as resistências que os meus demônios internos – os quais eu acredito agora são meus melhores amigos – tiveram de vencer e implacavelmente esmagar.
O que está claro para mim é que devo trilhar o meu próprio caminho. Mas como posso fazê-lo, fora de meus escritos e meus enunciados teóricos? Tento não dispensar os instrumentos concretos que me são disponibilizados para me exercer afirmativamente - apesar de vez por outra deixar que um martelo caísse machucando meus pés. Sei que não me integro na linha oficial pelo simples fato de não estar no poder e fico constantemente de mãos atadas e dependente da facção dominante. Com minhas trevas exteriores tento contestar interminavelmente o que acredito ser injusto, mas sem tempo ou condições para me afirmar senão em oposição às ideias que combato.
Seja como for, fica sempre a impressão, referida no início dessa nota, de eu ser uma Narayana engraçadinha, geniosa e encantadora, quando eu sou, na realidade, muito mais que isso.
Onde é que isso vai parar?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009


Para ser sincera, nem chego a ser uma cinéfila, daquelas que se não rolar o cinema durante a semana significa a treva. Ainda assim o cinema é para mim quase sempre o melhor lugar, bom mesmo de se estar. Curto um bom filme pelo mesmo motivo que amo boa música ou leio um bom livro: por respeito a meus princípios, pela reverência às coisas que todos deveriam vivenciar sem amarras, pelo apego ao conceito de explorar o bom da vida e tirar o melhor proveito disso.
Agora, nada posso fazer, infelizmente, se o “pessoal” que gosta de rotular prefere achar que quem pensa como eu é “metido a besta”, como se entendessem que não existem pessoas requintadas, intelectuais que merecem respeito e mesmo aplauso por suas ideias –ainda não sou uma intelectual, mas é o que busco e não vejo mal nisso. Os seres modernos estão muito negativos, associando à frustração ou violência coisas que deveriam ser boas – falta humor e sinceridade nas pessoas, além de viés político. Todos preferem falar mal uns dos outros, pois essa é a solução para o tédio deles – como disse uma pessoa muito querida: “é que a felicidade incomoda, Narayana.”
Pois é, eu incomodo por ser muito frontal e honesta quando, apesar dos sorrisos no rosto, reproduzo meus anseios, dúvidas e desejos que, por mais que os outros finjam que não, sei que são comuns a todo ser humano.
Se existe algo errado e distorcido na forma como as pessoas veem umas as outras é apenas pelo fato de certas situações servirem como um espelho para uma sociedade que sente vergonha de se ver e assumir. Os seres humanos vivem angustiados por quererem saber mais sobre os vizinhos sem se preocuparem em reconhecer a si próprios – e é aí que a vida os atravessa sem que eles percebam o quão à deriva estão.
Eu só posso ficar triste por saber que o “normal”, o a “aceitável”, o “invejável” é ser popular, é seguir a massa, é dançar ao som da bunda music e tomar bebida barata até não se saber mais o que está sendo dito ou feito.
E por quê? Porque de outra forma eu não poderei ser aceita pelo que sou.
O mundo desmorona, o espaço dilata, as eras passam em segundos, o céu se cobre de estrelas – e o céu se despedaça – fico calada – e fico calada mais pausadamente, tranco no peito o que sinto e não ouço mais nada. Será que o que deve ser dito vai ser ouvido? As pessoas mesquinhas parecem não ter fim: multiplicam-se aos montes. Parece que nunca está tudo bem. E daí? Não me resta outra opção, como disse James Joyce: “Escreva, desgraçada*, escreva sobre isso! Para quê mais você serve?”


Obs.: Na foto, Roots de Frida Kahlo, artista que consegue expressar com suas pinturas dores infinitas e indizíveis.

Obs.: *No original esse trecho diz desgraçado – no masculino - e não desgraçada como coloquei.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

UM ÚLTIMO AVISO (trecho).


(...)
Desejo que você lembre as frases de que gosta. Que você descubra sopro de luz e arremedo de sorriso nos céus por onde desfila. Desejo que você ame e odeie até o limite. Desejo de todo coração que você passe bem. Sim, que você passe muito bem, mas não ouse fazê-lo sem mim.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Books/life project.


Now, I am all for toying around with new concepts and initiatives that help the independent exceptionally talented and wildly imaginative people I knew last year.
all this years, I come to proclaim an end to the petty grievances and false promises, the recriminations and dogmas that for far too long have strangled our ideas.
Now that we finally can brake that conception false barrier about our true deep thought i hope how much longer until we break the mind barrier and have an inauguration without someone's hand on a bible.

I’m really, really proud of you guys: Iva Tai, Marquês, Elytelma, Emilia Ract, Little Laura (big sis)!
God bless you so!

Ps.: In the pic above: Endless, by Neil Gaiman.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009


Acho que comecei a me interessar por música e poesia desde a barriga de minha mãe. Lembro que nossa casa era cheia de gente bonita e performática.
Houve uma época em que eu quis ser bailarina (infelizmente, em decorrência de seis meses e 15 dias de instabilidade em desempenho pelos quais passei, não pude alcançar senão uma apresentação de meia hora no TAM – Teatro Alberto Maranhão – Nessa época senti-me tal qual uma cerejeira que floresce de uma forma, digamos, muito rápida e as flores perecem num período curto. O sentido disso, nesse caso, era da necessidade de fazer o melhor que era concedido à época. – Isso também se foi? – de repente as coisas se equilibraram dentro de mim. O problema é que esse equilíbrio oscila num vai e vem medonho ainda hoje.
Por esses dias devido à falta de tempo surgiu um desejo profundo e conciso de me renovar no ritmo acelerado desse mundo louco. Como isso é cansativo: acordar muito cedo, trabalhar, ir “marombar” – sim, senhores, eu marombo - dividindo o horário do almoço com os ferros que puxo, depois vou trabalhar de novo, então tenho de ir para casa tomar banho para, mais uma vez, trabalhar (...) tudo que me constitui se entrelaça – não tenho distanciamento crítico suficiente de mim mesma, acho que ninguém tem – e começo a achar que nem os animais gostam de solidão.

Obs.: Na foto pessoas bonitas e marotas em Ceará Mirim: dia de tributo a Raul, grande Raul.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009


Então, há tempos eu tento ressaltar a importância do ato de escrever para mim levando-se em consideração que a modalidade da escrita é fundamental para várias pessoas. Atualmente, minha incrível dificuldade com a ortografia ultrapassou o sinal vermelho com força, sobretudo depois dessa reforma.
Minha capacidade de colocar minhas ideias no papel de forma clara sempre foi consideravelmente satisfatória, porém foi com grande pesar que verifiquei que eu ainda escrevia coco com acento – essa palavra não tem acento há tempos! Eu já sabia do quão precária era minha desenvoltura quanto à acentuação das palavras e etc., troco “s” por “z” e tal, mas nada se comparou ao meu embaraço quando a incomparável Doutora Glícia Azevedo disse em alto e bom tom que eu escrevia muito, muito bem, pois eu sabia que cada palavra de minha redação contara com a ajuda do querido Office Word/2007 (obrigada)!
Meu conhecimento das possibilidades da língua brasileira*exige que eu leia muito. Devo ser muito lenta ainda, pois não consigo assimilar muita coisa apesar de sentir-me estimulada ao máximo a elaborar um texto com tema sugerido. Isso não me incomoda tanto por saber que tenho uma revisora fantástica para o que tenho escrito – Kika, adoro você! – contudo andei lendo uns manuscritos de “Nara Potter” antes de jogar no lixo e comprovei que esses meus textos apesar de prosaicos também eram originais e diziam mais sobre minha personalidade até do que eu gostaria de transparecer. Apesar de já não concordar com nada ou quase nada do que já escrevi creio que não devo mais parar de produzir esses rabiscos, pois esse ato é para mim agradabilíssimo, além de estar sempre visando ao melhor domínio da expressão escrita. Espero de coração que ao escrever tanto quanto leio eu consiga, ao longo dos anos e com a prática, sanar esse meu mal entendido com a ortografia. Entre mortos e feridos a escrita sobrevive afinal.
Como se diz no latim: Malo tutus humi repere quam ruere.**

Obs1.: *Digo língua brasileira por compactuar com a ideia de que há diferença nas formas de escrever e falar entre Portugal e Brasil.
Obs2.: ** Antes burro que me leve a cavalo que me derrube.
Obs3.: Dica de HQ Erótica: Bitch in Heat (Puta no Cio) da inigualável italiana Giovanna Casotto.
Obs4.: Na foto, obra de Aubrey Vincent Beardsley.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Foi Antônio Cícero quem disse que “com o passar do tempo, se você não publica, os poemas vão diminuindo de número e não aumentando.” Assim que li essa afirmação concordei. Minhas ideias – tanto as escritas como as ágrafas, tais quais as da elite artística, - também estavam sujeitas a um processo progressivo de erosão. Já não penso mais da forma que pensava quando escrevi meu primeiro conto, meu primeiro poema, meu primeiro romance.
Mudo constantemente o que escrevi porque mudo constantemente a mim mesma. Claro que tudo seria muito diferente se publicado: já não haveria o que eu pudesse fazer.
Houve um tempo em que me importava à maneira como os outros viam meu “trabalho”. Hoje em dia tanto faz se as pessoas especulam a respeito do que escrevo – desde que desperte o interesse de alguém que não tenha o ego inchado acho que não devo me preocupar.
O fato é que com o tempo passando, meus olhos já não querem fiscalizar a pilha de papel que sempre se acumula por cantos escolhidos da minha casa, seja por seu conteúdo que já não me parece tão útil ou porque já não existam mais resquícios em meus pensamentos sobre o que está ali diante de mim.
Às vezes fico tão chata, sem conseguir me concentrar para finalizar e organizar meus projetos que já não me interessa o que está em jogo. Isso sem mencionar os projetos a longo prazo.
Nunca quis presentear alguém com essas pérolas que escrevi – salvo duas ou três situações - por achar que não existam pessoas que possam compreender tais devaneios, principalmente ao usar meus personas prediletos: os masculinos. Quando uso pseudônimos fico menos tensa com o conteúdo vibrando da mente para o papel. São coisas perfeitas, íntimas, as mais corretas com que posso contar. E meus neurônios, minha alma e meu semblante são preenchidos com ar mais puro e só quem não é poeta não se sente assim.
Dei uma parada para essa reflexão, agora vou lá com meus lamentos e meus sorrisos.
Como diria meu pai: “Quem é bonito é bonito e quem é feio que Zidane ou faça gols!”

Obs.: Na foto Marcelus Bob aconselha Narayana.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Elena passou a infância feliz aprisionada num corpo de meretriz cercada por livros empilhados nas estantes. Aos 20 anos freqüentava reuniões regadas a vinho e rostos sorridentes. Apaixonava-se com a mesma freqüência que se desapegava: tarde demais. Matinha o semblante radiante cheio de maquiagem incolor. Tinha olhar rebelde e suas magras pernas estavam sempre cruzadas ao sentar (achava que era Cristo). Pensou que poderia escrever facilmente sua vida entre as horas em que flertava descaradamente com contratempos decentes. Vivia devagar. Afetada demais. – Seu único erro realmente. Ela desabrochava tentando agradar o mundo com suas quatro condições para ser feliz: hábito, consolo, desejo e esquecimento. Talvez descumprisse essas ideias quando retornava cansada para casa pela manhã. – Nessas horas sempre tropeçava chegando por vezes a berrar palavrões. Estava sempre disposta a se dar completamente (poderia cair e morrer mil vezes).
Ela jogava muito bem, era o que todos diziam.
E ela era apenas uma menina aprisionada num corpo de meretriz.

Obs.: Na foto, cena de Amores Perros.

terça-feira, 3 de novembro de 2009


Era uma vez uma ela que se perdia no desgaste de seu próprio fôlego. E essa ela se perguntava constantemente o que havia acontecido aos seus heróis. Ouvia gritos madrugada à dentro – vez por outra tiros. Não acreditava no que escutava, nem no que lia e apenas em metade do que via. Acreditava que esse mundo não é para pessoas que estão habituadas a amar demais, a se divertir e digerir ações sem peso na consciência por estarem vivas.
Ela era dessas elas que competiam mentalmente contra a teimosia verbal dos frouxos e cretinos – malditos cretinos empestando o mundo.
Mas essa ela, essa mulher, olhava nos olhos e sorria e sentava-se na cama para depois deitar-se sem dormir. Deliciava-se com os raios de sol surgindo longe e acordava feliz mesmo sem haver dormido.
Era uma vez uma mulher que ousava fingir, que fingia muito bem, fingia tão completamente que chegava a fingir que era bem estar o bem estar que ela de verdade sentia. Era fã dos versinhos de Alice Ruiz. Não gostava de se explicar e se explicava mesmo assim. Andava rápido, vagando quase sem parar.
Um dia sabia que iria ter de frear, não sabia quando.
Morreria em janeiro
sem saber como.