Echo, echo, echo(...)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009


Para ser sincera, nem chego a ser uma cinéfila, daquelas que se não rolar o cinema durante a semana significa a treva. Ainda assim o cinema é para mim quase sempre o melhor lugar, bom mesmo de se estar. Curto um bom filme pelo mesmo motivo que amo boa música ou leio um bom livro: por respeito a meus princípios, pela reverência às coisas que todos deveriam vivenciar sem amarras, pelo apego ao conceito de explorar o bom da vida e tirar o melhor proveito disso.
Agora, nada posso fazer, infelizmente, se o “pessoal” que gosta de rotular prefere achar que quem pensa como eu é “metido a besta”, como se entendessem que não existem pessoas requintadas, intelectuais que merecem respeito e mesmo aplauso por suas ideias –ainda não sou uma intelectual, mas é o que busco e não vejo mal nisso. Os seres modernos estão muito negativos, associando à frustração ou violência coisas que deveriam ser boas – falta humor e sinceridade nas pessoas, além de viés político. Todos preferem falar mal uns dos outros, pois essa é a solução para o tédio deles – como disse uma pessoa muito querida: “é que a felicidade incomoda, Narayana.”
Pois é, eu incomodo por ser muito frontal e honesta quando, apesar dos sorrisos no rosto, reproduzo meus anseios, dúvidas e desejos que, por mais que os outros finjam que não, sei que são comuns a todo ser humano.
Se existe algo errado e distorcido na forma como as pessoas veem umas as outras é apenas pelo fato de certas situações servirem como um espelho para uma sociedade que sente vergonha de se ver e assumir. Os seres humanos vivem angustiados por quererem saber mais sobre os vizinhos sem se preocuparem em reconhecer a si próprios – e é aí que a vida os atravessa sem que eles percebam o quão à deriva estão.
Eu só posso ficar triste por saber que o “normal”, o a “aceitável”, o “invejável” é ser popular, é seguir a massa, é dançar ao som da bunda music e tomar bebida barata até não se saber mais o que está sendo dito ou feito.
E por quê? Porque de outra forma eu não poderei ser aceita pelo que sou.
O mundo desmorona, o espaço dilata, as eras passam em segundos, o céu se cobre de estrelas – e o céu se despedaça – fico calada – e fico calada mais pausadamente, tranco no peito o que sinto e não ouço mais nada. Será que o que deve ser dito vai ser ouvido? As pessoas mesquinhas parecem não ter fim: multiplicam-se aos montes. Parece que nunca está tudo bem. E daí? Não me resta outra opção, como disse James Joyce: “Escreva, desgraçada*, escreva sobre isso! Para quê mais você serve?”


Obs.: Na foto, Roots de Frida Kahlo, artista que consegue expressar com suas pinturas dores infinitas e indizíveis.

Obs.: *No original esse trecho diz desgraçado – no masculino - e não desgraçada como coloquei.

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