Echo, echo, echo(...)

quarta-feira, 10 de julho de 2013


Na foto: olhos de Narayana.

A porta dava para o encontro agendado.
No quarto a atmosfera era de sujeira, de mofo, de abandono, contrastando com o assassino que sonhava seduções e esperava sentado.
Meus olhos passeavam pelos cantos do espelho evitando o centro dele (por que tudo isso se o trato mental nem era o de permanecer pelos cantos)?
O quarto confluía para os meus olhos, que o recepcionavam – em todo aquele desconforto – e o mandavam obstinadamente de volta num revirar magistral.
Os olhos do mundo eram meus como minha própria linguagem.
Os olhos eram o centro de tudo falando em silêncio: muito bem, muito bem.
Restava fitar a própria obra, abrigar a sujeira que emanava ao redor.
Constatação tardia: não era o quarto sujo, eram os olhos do mundo.
Não dava para distinguir a loucura nas ações, nessa ode à violência das exposições, onde trabalhando como bailarina, sem pretensão, fuzilava com os olhos em fogo.
O fogo não era o foco.
E não era necessário reconhecê-lo como mensageiro.
Mas havia aqueles encontros às vezes.
Quando acontecia, era caos (...)
E fúria para os dias de perdão.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

XxX



Na foto: Dois lolozeiros.

Aqui
além de onde a vista alcança
os barcos se alvoroçam,
terminam suas viagens e os vejo retornar.
Vejo suas velas e sinto o vento nos cabelos:
uma constatação – mas nada desafiador.
Meus cabelos ao vento e meu desejo descuidado
atracando em outros portos.
Mantenho as mãos cheias
e o olhar aguçado:
o resto, o abraço cortês, faz parte.
Não assisto os barcos partindo,
sei que partem porque voltam,
de vez em quando os vejo vindo
e eles veem a mim,
e não precisamos saber o que fazer disso.

domingo, 7 de julho de 2013

Desafogo


Foto: 
















No mais ostensivo desafogo
o complexo me fixa
me acompanha
expõe todas as satisfações visuais possíveis:
de semblante, de corpo, de alma.
Isso não é um luxo
que um miserável pode ter
deitado pela metade na cama estéril
perambulando pelas calçadas menos movimentadas
do canto mais escuro do mundo,
com a mão estendida e olhos que enganam:
juntando seus trocados
de desconsideração e castigo.
Quem são os afortunados?
Quem são os bêbados?

Ah, mas eu só quero sentar mais uma vez – para depois seguir em frente – permanecendo de forma absurda nesse um pouco de cada um que forma o todo dentro e fora de mim.

- Régia Ribeiro & Salvador Rios.

sábado, 6 de julho de 2013

XxXx



Na foto: Régia Ribeiro

tua fama de perder o controle
sabia-se de uma ponta a outra,
depois de se deslocar entre mundos incríveis,
em um esquema bem elaborado
os lábios infernais pousaram nos especiais:
Jeová, Narayana, Tereza, Gaia.
Convincentes elegias finalizadas felizes
(com endereço fixo onde quer que se imagine)
eternizado em corpos e mentes sãs
batucando tambores e dedilhando as cordas
com naturalidade surpreendente e inerente.


deixe a aparência tomar o rumo certo
que o oposto disso é só
fruto corrompido
prazer viril e perfume de ninfetas
sssssssssssssss ssssssssssssssssss

- Régia Ribeiro

sexta-feira, 5 de julho de 2013

XXXXX

Na foto: Boris Vian


As vantagens do amor, o alimento de sedução.
Um banquete dessas divinas coisas que se descartam para os bestiais.
Começa o trabalho de limpeza, chamado benfeitoria, de instigar os próprios músculos e mantê-los aço ou bagaço. Tudo é a mesma matéria: eu sou tudo o que existe.
O que sou tem valor do que sou.
Não tem um que se aguente sem mim.
Uma de minhas misérias:
Observo meu reflexo e me vejo pálido como quem viu o sol há uma semana
Sinto minha presença de domador febril e mau
Sendo iludido pela fera em mim e seu chicote
Auuuuuuu Auuuuuuu
Sou aquele lobo que impõe respostas de cachorros aos passantes nas ruas.
Constatando de vez em quando
Com verdadeira satisfação
Que me vejo em tudo o que há
Permanecendo constantemente e de um dia pro outro
Me regalando com os confortos da vida, doce vida
Além de tudo e infinitamente.