Echo, echo, echo(...)

terça-feira, 21 de março de 2017

Why not?

Na foto: Narayana Click: FotoLumina



“Uma relação tem de servir para tornar a vida dos dois mais fácil. Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom e merece ser desenvolvido.”

Dormia a sono solto após dobrar-se: não sabia que preces faziam cair de joelhos. Eu não queria ir embora sem saber algo mais. Aquele suspiro de tamanho incomum encheu meu peito e se derramou em revoadas por sobre minha cabeça. Percebi que tudo parecia não passar de um equívoco. E uma necessidade que não ia embora de ocupar os dias com gestos e ações que encobrissem uma sequência interminável de frustrações em minha vida plena de estranhezas, solidão e um inabalável encantamento quando te via dormir. Minha jornada me pedia para fazer coisas que a cada passo que eu dava estava cada vez mais distante do meu objetivo íntimo. A rua já não parecia uma extensão de mim. Aqueles meios-fios repletos de lixo, esgoto estagnado, um ou outro carro perdido... O significado da palavra mistério parecia ter quadruplicado em suas nuances cada vez que passava a mão na testa pretendendo enxugar o suor que escorria por conta do esforço.

Quanto mais eu me mantinha ali parecia se fazer o cerco sobre minha pessoa. Até seu rosto parecia estar coberto de sombras como um vestido noturno. Achei cigarros em cima da mesa, mas quem os colocara ali? Senti as luzes escorrendo pelas frestas da noite, tentando me seguir. Poderia ter corrido, mas no meu íntimo eu me dizia para ficar. Não consegui chegar sequer até a porta: um tapume de borboletas noturnas impedia minha passagem. Minha boca começou a despejar palavras desconexas no ambiente e nos seus ouvidos, como se eu pudesse captar o flapear das asas ou o hálito dos seres que eu havia flagrado saindo aos poucos de perto de nós. Peguei suas mãos entre as minhas e comecei a desejar uma pistola na cintura. Quis correr no sentido da praça onde aquelas velhas se sentam e se riem às gargalhadas cheias de escárnio. Continuei ali. E os pensamentos continuaram a vir atrás de mim. Até que tudo parou. E vi luzes refletindo os quadros nas paredes. Minha vaidade sendo tangida pelo medo. Olhei através da janela onde se via, com muita caridade, algumas estrelas. Lembro de que corremos feito loucos, mas nenhum vestígio seria encontrado.  Atrás de nós: lesmas. Até que um dia paramos e colocamos as mãos na cabeça, sapateando e gritando uma torrente de desespero e loucura. As coisas pareciam se assustar com os berros que saiam de nossos lábios finos. Só ficamos nós, a escuridão e as parcas estrelas no céu. Eu que estava de pé, desejando uma pistola à mão, debrucei-me para colocar sua cabeça em meu colo e, enfim, perguntar, quem era você.

--Você já me conhece...


...

Nenhum comentário:

Postar um comentário