Tudo que havia de bom para que eu temesse perdê-la se foi agora, Justine. Mas isso não é nada.
Você me comia vivo, disso nunca me esquecerei.
Cada vez que me devorava e deixava que eu partisse segura de que eu era seu. Nem imaginavas o que estava por vir: eu não imaginava, Justine. Nunca amei ninguém com quem já não tivesse conversado. Mas eu conversei tanto. E amei tanto que pouco resta de mim.
E pensar que deixei que você me sugasse inteiro alguns finais de semana. E deixei que você aboletasse pétalas em minha boca, Justine: o cheiro era espetacular. Coloquei Dorival Caymmi para você ouvir – você sempre agradecendo o mais frívolo de meus movimentos.
Você é tão fresca às vezes, Justine, tão febril.
Enquanto eu reservava todos os meus outros artifícios sorria. E chorava cada vez que eu vinha e nunca quando eu ia... Você foi um anjo caído em sua própria cama, Justine, e esse filho não é meu.
Acabei de me vestir tarde. - A ressaca me faz querer o que não posso (?).
Justine, querida Justine, infelizmente não poderei estar aqui quando retornares. Vou embora agora com a sensação de dever cumprido, com meus cigarros, minha ressaca e o pensamento repleto do que fazer sabendo que, assim como minha mãe, você também pinta os cabelos.
- Salvador Rios/2009.
POis é: eu também pinto os cabelos(...)
ResponderExcluirNão poderia ser de outra forma: eu me camuflo dentro de mim. Escrevo acreditando que não me alimento do que me mata, será mesmo que escrever é o meio termo da autofagia?
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