Echo, echo, echo(...)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Parabéns para mim amanhã


Estou de parabéns mesmo?
Despertarei amanhã e será uma nova fase para mim
E rogo por isso: melhor, mais forte
Mas não pode ser apenas o povir:

"Einmal Ist Keinmal."
(Uma vez não basta. Uma vez é nunca).

Tão fácil de entender
Eu vivo em meu mundo mas já não contemplo o mar
Bagunço a vida de quem só quer passar
Deixo qualquer pessoa tonta abraçando forte:
faço versos, assisto filmes franceses

Adorava brincar - hoje apenas humor negro
Meu verdadeiro poder reside em ser complicada tanto quanto a vida é doce
Isso sou eu, meu verdadeiro eu.
E amanhã é meu aniversário
Estou de parabéns?
Sim, estou de parabéns
E amanhã é meu aniversário
Mas não estou de parabéns por isso.


Obs.: Na foto Ville Valo, gótico dos anos 80.

2 comentários:

  1. E há muitos cretinos por perto - malditos cretinos impestando o mundo, inclusive há os cretinos que eu amo.

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  2. POEMA DE OUTUBRO - Dylan Thomas

    Era o meu trigésimo ano rumo ao céu
    Quando chegou aos meus ouvidos, vindo do porto
    e do bosque ao lado,
    E da praia empoçada de mexilhões
    E sacralizada pelas garças
    O aceno da manhã

    Com as preces da água e o grito das gralhas e gaivotas
    E o chocar-se dos barcos contra o muro emaranhado de redes
    Para que de súbito
    Me pusesse de pé
    E descortinasse a imóvel cidade adormecida.

    Meu aniversário começou com as aves marinhas
    E os pássaros das árvores aladas esvoaçavam o meu nome
    Sobre as granjas e os cavalos brancos
    E levantei-me
    No chuvoso outono
    E perambulei sem rumo sob o aguaceiro de todos os meus dias.
    A garça e a maré alta mergulhavam quando tomei a estrada
    Acima da divisa
    E as portas da cidade
    Ainda estavam fechadas enquanto o povo despertava.

    Toda uma primavera de cotovias numa nuvem rodopiante
    E os arbustos à beira da estrada transbordante de gorjeios
    De melros e o sol de outubro
    Estival
    Sobre os ombros da colina,
    Eram climas amorosos e houve doces cantores
    Que chegaram de repente na manhã pela qual eu vagava e ouvia
    Como se retorcia a chuva
    O vento soprava frio No bosque ao longe que jazia a meus pés.

    Pálida chuva sobre o porto que encolhia
    E sobre o mar que umedecia a igreja do tamanho de um caracol
    Com seus cornos através da névoa e do castelo
    Encardido como as corujas Mas todos os jardins
    Da primavera e do verão floresciam nos contos fantásticos
    Para além da divisa e sob a nuvem apinhada de cotovias.
    Ali podia eu maravilhar-me
    Meu aniversário Ia adiante mas o tempo girava em derredor.

    Ao girar me afastava do país em júbilo
    E através do ar transfigurado e do céu cujo azul se matizava
    Fluía novamente um prodígio do verão
    Com maçãs
    Pêras e groselhas encarnadas
    E no girar do tempo vi tão claro quanto uma criança
    Aquelas esquecidas manhãs em que o menino passeava com sua mãe Em meio às parábolas
    Da luz solar
    E às lendas da verde capela

    E pêlos campos da infância duas vezes descritos
    Pois suas lágrimas me queimavam as faces e seu coração
    se enternecia em mim.
    Esses eram os bosques e o rio e o mar
    Ali onde um menino
    À escuta
    Do verão dos mortos sussurrava a verdade de seu êxtase
    Às árvores e às pedras e ao peixe na maré.
    E todavia o mistério
    Pulsava vivo Na água e nos pássaros canoros.

    E ali podia eu maravilhar-me com meu aniversário
    Que fugia, enquanto o tempo girava em derredor. Mas a verdadeira
    Alegria da criança há tanto tempo morta cantava
    Ardendo ao sol.
    Era o meu trigésimo ano
    Rumo ao céu que então se imobilizara no meio-dia do verão
    Embora a cidade repousasse lá embaixo coberta de folhas no sangue de outubro.

    Oh, pudesse a verdade de meu coração
    Ser ainda cantada
    Nessa alta colina um ano depois.

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