Echo, echo, echo(...)

quinta-feira, 8 de julho de 2010


Perguntaram “por que essa vontade de ser Cristo?”
“Por amor” foi a resposta que dei
E todos acham que sou Deus
Não posso falar para você desistir
Está tudo muito nebuloso agora
Estou, de uma forma ou de outra, perdida em meu próprio fôlego
Vai ser complicado você saber quem sou ou o que eu quero dizer,
Mas não posso dizer que é impossível que tentemos isso

Minha conduta fica entre o cuidado e o vacilo
Sou senhora do silêncio e do que é proferido
Não posso fingir que às vezes tenho de ir devagar
Mas, mesmo a mil por hora, canso e ouso estacionar
Estou sempre esperando em algum canto
Talvez seja difícil me ver
Talvez seja complexo me encontrar
Mas, acredite, estou parada em algum lugar

Talvez tenha vivido demais, talvez nunca
E, por mais fantástico que isso soe,
Estou a salvo em meu próprio reino:
Sou aquela que mesmo triste, sorri
Não sou cega
Não faço previsões
Não sei onde estarei amanhã
Sei que estarei onde quero.

Obs.: Sentindo-me como o personagem de um filme, com “síndrome de despersonalização”

8 comentários:

  1. mas è real, acredite...

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  2. "Como não te sonhar? Como não te sonhar? Senhora das Horas que passam, Madona das águas estagnadas e das algas mortas, Deusa Tutelar dos desertos abertos e das paisagens negras de rochedos esteréis - livra-me da minha mocidade.
    Consoladora dos que não têm consolação, Lágrima dos que nunca choram, Hora que nunca soa - livra-me da alegria e da felicidade.
    Ópio de todos os silêncios, Lira para não se tanger, Vitral de lonjura e de abandono - faz com que eu seja odiado pelos homens e escarnecido pelas mulheres.
    Címbalo da Extrema-Unção, Carícia sem gesto, Pomba morta à sombra, Óleo de horas passadas a sonhar - livra-me da religião, porque é suave; e da descrença porque é forte.
    Lírio fanando à tarde, Cofre de rosas murchas, Silêncio entre prece e prece - enche-me de nojo de viver, de ódio de ser são, de desprezo por ser jovem." [...]Rezo a ti o meu amor porque o meu amor é já uma oração mas nem te concebo como amada, nem te ergo a mim como santa.
    Que os teus actos sejam a estátua da renúncia, os teus gestos o pedestal da indiferença, as tuas palavras os vitrais da negação."

    Nossa Senhora do Silêncio - Do Livro do Desassossego, Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

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  3. Senhora da Hora...Digo senhora das Horas(...) Sugestivo deveras, Al. H.
    Mas continuo me sentindo como se nada fosse real.

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  4. É. Mas uma dia a realidade (in)felizmente nos chama às falas. E aí a gente não pode mais se refugiar nos vitrais da negação... =(
    Ademais, o Pessoa é fantástico. Ele que sugere as coisas. Eu só fiz transcrevê-las.

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  5. Não para a realidade cretina dos mortais cretinos! Refugio-me mais e mais uma vez, pois sei do que posso. É tudo fantástico na mesma proporção em que todos são fantásticos.

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  6. Ah, claro. O que há de mais admirável no fantástico é que não existe mais o fantástico: só há o real. É nessa realidade na qual resido. Uma realidade que poucos sabem viver e compreender.

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