Outro dia eu estava com Samir num barzinho legal, quando uma amiga apareceu. Fazia muito tempo que eu não via Micheline. Ela era uma dessas mulatas de arrasar quarteirão, mas não tinha um pingo de juízo, era doidinha, doidinha. Chamei para sentar junto conosco, não só por educação, claro.
Ela estava ainda mais bonita do que a lembrança que eu guardava dela na memória: cabelos longos, lisos e negros tais quais os cabelos de Iracema, que aliás tivesse sido criada nos tempos atuais, Iracema seria totalmente inspirada em Micheline. E ela era alta e tinha um corpo bonito. Seu sorriso era branco e contrastava com a pele morena lisinha. Eu disse “e aí, menina, o que anda fazendo da vida?” e a danada me respondeu depois de dez segundos de silêncio “virei puta!” Enquanto eu quase engasguei com a cerveja, o palhaço do Samir caiu na gargalhada. Eu disse “como assim, sua doida?! Tá de onda com a minha cara, não é?” Mas aí ela sustentou o que havia acabado de dizer, e o bosta do Samir, que estava se borrando de rir, arregalando os olhos verdes de vez em quando, começou a me pedir, com apertões no ombro, que eu colocasse a vadia na mão dele. Vejam só! Era só o que me faltava: uma amiga vadia e um amante cachorro! Surpresa, paciência, discrição, suspiro, longo gole de cerveja.
Passado o baque inicial, comecei uma conversa com uma pergunta:
- Micheline, como é que foi isso?
- Ah, menina. É uma longa história(...)
- Mas conta que eu estou louca para saber. Você não ia terminar a faculdade de Turismo?
- Larguei depois que comecei essa nova empreitada: agora faço Direito. Assim que me formar monto um escritório, ou então viro escritora de best seller como já vi umas colegas de profissão fazerem por aí.
- Sei. - pausa - Mas, e aí, vai contar ou não como foi isso?
Riso, riso nervoso, constrangimento ante o amante. Sinalizo dizendo que ele provavelmente não lembraria de porra nenhuma no outro dia: ele era muito porra louca para isso. Ela pareceu confiar no que eu disse – não poderia ser de outra forma afinal, era a mais pura verdade: ele não lembraria de nada no outro dia, porém quando estivesse na secura e de saco cheio de mim com certeza ele perguntaria por ela.
Micheline começou então o relato detalhado de como havia se tornado uma “mulher da vida fácil”, seja lá o que essa expressão quer dizer. Ela disse “lembra daquele meu amigo que tinha uma tara filha da mãe em mim, o Michael? Pois é, um dia estava tomando vodca com ele numa boate e ele do nada me passou uma proposta: ele queria chupar meus peitos e pagaria o preço que eu escolhesse por isso.”
Aí Micheline contou que não respondeu nada, que olhou para Michael pediu licença e foi ao banheiro. Quando ela voltou, pensando que ele mudaria de assunto, ele disse “muito bem, Micheline, eu te pago 300,00 reais para que você me deixe chupar seus peitos por meia hora!” Ela disse que não teve como recusar, mas não aceitou logo de cara, e como ela fez jogo duro do tipo “mas o que é isso, cara! Nós somos amigos!”e Michael percebeu que faltava muito pouco para que ela aceitasse a oferta, ele deu uma incrementada na proposta: “eu pago os 300 e mais o nosso consumo durante a noite! Depois ainda te dou um bônus!” Micheline engolia a última dose de vodca, enquanto Michael já pedia a conta para o garçom. Paralisia, goto, olhares nervosos, nervosismo de ambos.
Pegaram um táxi e foram parar numa suíte temática de um quarto de motel de luxo. Ela disse que lembrou de haver pensado “como é que pode, um cara já nessa idade – 41, agindo como garoto! Seria Michael um louco? Claro! Era isso: ele era um louco!” Mas então o que ela seria? Ela ligou o ar-condicionado, mesmo detestando frio, e pediu que ele lhe servisse uma bebida, pois estava ainda sem acreditar no que estavam fazendo. Ela virou uma latinha de cerveja e pediu mais uma. Ele pegou para ela, e como num rompante de cavalheirismo, esqueceu a tara nela e disse que se ela não estivesse à vontade eles poderiam ir embora. Micheline disse que tirou a blusa bem rápido nessa hora, afinal 300,00 reais são 300,00 reais, e tirou o sutiã devagar de costas para ele, que se não estava babando ainda era única e exclusivamente porque era isso que o separava de um garoto: experiência. Minha nossa o que aconteceria? Praticidade, bebedeira, exclusividade recém conquistada, saciedade momentânea, pedidos convenientes.
Quando Micheline se virou poderia jurar que ele voaria em cima dela, mas ao contrário, ele apenas sorriu com o olhar petrificado admirando seus seios morenos, seu colo perfeito e já não tão jovem, embora não aparentasse ainda sua real idade. Michael pediu que ela se aproximasse dele, e com calma, pegou os seios dela com ambas as mãos, falou com eles, acariciou muito, e depois dedicou-se a arte de sugá-los. O mais incrível é que ele, o tarado dos seios, chupava com delicadeza e quando era mais intenso, mesmo assim, não a machucava. Será que ela estaria bêbada e por isso não conseguia sentir as coisas direito? Será que ele, o maníaco guloso, tinha a técnica mais perfeita de como se chupar uma mulher - como um filho que mamasse tranquilamente? Perguntas, dúvidas, dívidas, preços, fantasia e ônus.
Micheline disse que ele ficou sugando seus seios durante a meia hora que haviam “combinado”, nem mais nem menos. Ele era um homem de palavra então. Se bem que no embalo ele havia pedido um beijo na boca que ela recusou dar, ainda me confessou, mas um beijo era o de menos diante do que já acontecia, não é? Assim penso eu. Vai ver que ela não.
Eu escutava a história com interesse total. Samir, o meu amante, assistia um jogo de futebol que estava sendo transmitido na tv do bar. Micheline ainda disse que Michael apertava seus seios com as mãos e ficava falando com eles frases do tipo “por que vocês são tão bonitos? Por que parecem ter 17 anos?” ela disse que ficou rindo disso depois, na hora só pensava na grana e como as coisas tinham chegado nesse ponto parecia já não importar mais. Ele, o fascinado quarentão, tinha encerrado a diversão dizendo que “existe o ônus e o bônus. O bônus é o que fica.” Como eu não entendi essa última parte, ela me esclareceu dizendo que ele ao dizer “o bônus é o que fica” fez um gesto como quem está se masturbando. Eu disse “ah, tá.” Súbita compreensão, pernas descruzadas, aceno com a cabeça para o amante.
Ainda soube que eles, o tarado e a futura puta, foram embora no mesmo táxi em que entraram no motel.
A tarde passou logo enquanto eu escutei umas outras duas histórias de Micheline. Mulher mais doida que eu conhecia, talvez única puta confessa que eu conhecia. Samir e eu nos despedimos dela e fomos embora.
Ontem eu brinquei dizendo que iria chamá-la para tomar uma birita e Samir disse para deixar quieto. Perguntei “por quê?” e logo ele, que é o mestre de ficar afim das minhas amigas, disse a seguinte frase: “Não vale à pena, ela não é ouro, é apenas Micheline.”
Pois é, vai entender.
Nenhum comentário:
Postar um comentário