Echo, echo, echo(...)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Garota da Padaria (trecho)

Tropeço chapado em seu andar faceiro. Você dança enlouquecida na crueza do quarto com desenhos arabescos nas paredes misteriosas. Você que sequer sabe à respeito de Lichtenstein e Rimbaud. Mas gosto de sua ignorância adocicada. Agradeço nosso ritual de final de semana: tua pele morna cheirando a bebida barata parada à luz de leds, revelando-se em movimentos sensualmente agitados, como num convite mudo, transformando em proeza teus passos cobertos de olhares alheios, timidamente severos. - Às vezes de acordo com a natureza do que sinto. – Seria eu remanescente de uma geração beat, sempre cansado da monotonia da vida ordenada? - Desejo recitar Augusto dos Anjos, mas não o faço. Desejo acentuadas perfeições. Pego seu corpo amolecido e sinto-me entontecer. A alça de seu vestido escorrega. Eu desço hipnotizado pelo cheiro e pela visão dos jardins do Éden. Minha língua percorre cada uma das pétalas expandidas no centro de seu corpo.
Coloridas pétalas expandidas
Até que a flor chore e eu ouça um gemido: ouça um grito. Observo o tremor enquanto se encolhe e depois reaparece.
Maravilhosa sensação.
E recomeço a mesma dança, dessa vez percorrendo o salão com passos diferentes.


- Salvador Rios – 2009


Obs.: Salvador Rios é pseudônimo de Narayana Ribeiro.

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