Echo, echo, echo(...)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ao som de Joyce Moreno - Slow Music.


Li em algum lugar que quando você tem uma febre de quase quarenta graus ou você faz um poema igual ao da Sylvia Plath ou fica pensando besteira, feito um idiota.
A propósito, não sei se foi no início de janeiro de 2009 ou no final dele que comecei a me sentir febril.
Bem, se estou enganada quanto ao ano, senhores, avisem ao Batalhão de Choque para dar uma tapa no meu pé do ouvido, já que eu não posso bater em mim mesma. E se me chamarem de hipócrita aviso logo: acho que me engano fácil nas férias, ano passado eu bebi, enfiei o pé na jaca, não gostei.
Porrada nesse bando de desocupado que habita minhas entranhas.
Bem, uma coisa dessas só pode vir da cabeça de uma mente febril e apesar de ser um dos meus poemas prediletos, é também o que tenho de mais confuso em Salvador Rios, o canalha :

RESPOSTA AO INÍCIO

I
(…) Assim como as confissões que fiz eles lerem outrora – assim como as confissões que te transmiti durante a madrugada – boa parte delas – forcei tua mente a engolir minha mente. Você que faz parte de mim e que vacila. Você não queria? Mas foi uma conversa maravilhosa sobre minha conduta de cavalheiro. Fiz você engolir tudo imediatamente. Ah! Grande coisa acordar no meio da noite para conversar e sorrir, sorrir, sorrir, sorrir e correr a favor do tempo – tempo que destino para que possa mais uma vez sorrir e entregar para você malditos cartões telefônicos: vade retro! Xô! Passa! Mas foi uma noite em que me embriaguei, cheirei os seus cabelos e olhei em seus olhos, e sorri, e competi mentalmente contra sua teimosia verbal e depois me sentei para depois me deitar sem dormir. Sua cabeça encostada em meu peito e o sol surgindo longe debaixo da chuva fina. Deliciei-me até com isso, e acordei feliz, mesmo sem haver dormido.

II
Pensei muito em ti. Não consegui evitar cada letra e cada palavra, e cada frase que li – manhã, tarde, noite – cada momento com os livros nas mãos, meu sorriso catolaico e sereno apenas quis que acontecesse. Pensei muito em ti. Evitei o quanto pude... e cada segundo de cada sopro de minha respiração continua, de homem pouco preparado e pouco habilidoso para a meiguice, combateu esse esforço com afinco dentro de mim: aprisionar você em meu peito. Pensei em mim mesmo enquanto o sol se punha na varanda: portei-me como perfeito auroque inexistente. Pensei em mim mesmo perto dos jardins. Pensei em ti por via das dúvidas e dívidas que nunca acumulei ao longo das encostas das estradas por onde passei. Penso em ti, penso nele e nela também. Penso em mim. Sempre penso em nós. Provando de tudo que há para provar em nós. Sempre penso em nós. Sempre surpreendo o que há em cada um de nós e em ti, e em mim, e nele, e nela também.
O que é isso? O que é isso? - O importante foi o que calei 'inda agora.
Cheio de saúde e de dentes esbranquiçados de juventude por cada um de nós.

III
Mas o que é que você vai querer ainda? Saco de sal grosso! Um saco! Um saco só! Arrume a mesa para quatro: nós dois e dois livros. Arme-se com seu melhor sorriso e com suas unhas curtas, e com suas mãos grandes deixe-me pegá-la. Jogaremos meu jogo que você gosta. Faremos amor. Sorriremos e irei embora.
Deixarei você. Deixarei você.
Amanhã. Amanhã.

-Salvador Rios, Guarapari/ES, 2009.

Então. Tirando esse texto, já faz algum tempo que eu não escrevo algo tão entusiástico e cruciante, - desde a virada de milênio, que, pasmei ao ler Alisson Da Hora - Bibtcanus, pois me dei conta que já virou há dez anos. Mas, decerto que remediarei isso, senhores: palavras angustiantes borbulham em minha cabeça. Acho que dessa vez nem vou precisar de um trago.

Até logo.

4 comentários:

  1. Salvador Rios é um ser repleto de tesão e completo de amor. Um irmão.

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  2. Um irmão, Moya? Você também se caracterizaria assim como descreveu Sal Rios? Hope so. Risos.

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  3. Minha ignorância de economista me impediu de conhecer os escitos de Salvador Rios. Adorei o fragmento postado! Não tome anti-térmico. Fique em estado febril permanente!

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