Echo, echo, echo(...)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Insone

Ela chegava em casa após atravessar a cidade em sua bicicleta amarela. Abria a porta do quartinho onde morava. Sentia-se só – precisaria de uma terceira mão para contar nos dedos as noites em que não conseguia dormir.
Não tinha uma carreira de sucesso. Não estudava. Não perdia o controle – um controle obviamente comandado pela depressão. Era insignificante dizer que ela não bebia mais café e não escrevia cartas de amor. Tinha dor de cabeça aos sábados. Quando dormia era mal vestida e nunca tinha sonhos de contos de fadas. Conversava entrelinhas. Era uma garota malvada. Gostava de jogos sexuais. Mas no outro dia estava sempre só.
Quando eu entrei em sua vida àquela madrugada fui apenas mais um em mais uma noite de insonia: deitei em sua cama e rolei como suíno em todo o seu confortável abraço. O acaso que me tinha levado até a cama dela havia cuidado para que eu nunca mais voltasse. Depois daquela noite quando o dia estava esquentando eu vesti minha roupa e beijei sua boca, espremendo-lhe com força os lábios. Então de repente ela estava só: o outro dia chegava rápido demais.

- Salvador Rios.

3 comentários:

  1. Na realidade ter um auter ego masculino é tão divertido quanto descomplicado: dá para ser eu mesma sem questionamentos. Risos.

    ResponderExcluir