Echo, echo, echo(...)

segunda-feira, 22 de março de 2010


Sempre me senti atraída pelos tímidos.
Nunca me poderia demonstrar aos outros homens sem que tivesse de fingir ingenuidade e relutância e odeio fingir que não sou dominadora: gosto de conquistar. Meus anseios urgentes são devaneios ininteligíveis aos ouvidos moucos de outrem. São como viver com a sagacidade de um urso de circo, e o conforto do picadeiro nunca poderia preencher a falta que o mundo fora da lona proporciona. Por isso prefiro os tímidos que apesar de pensarem como os outros, sabem só haver uma saída para a cama por existirem mulheres como eu: caçadoras, verdadeiras Dianas capazes de serem doces como açucares refinados, de ter o corpo amolecido para o amor incondicional, porém sem o direito à escolha livre, pois desde sempre os homens esquivam-se assustados quando se deparam com a força e a ousadia de viver que só as mulheres de verdade têm.
Minha vida é um bambear de corda para a trapezista que sou: com minha vara de bambu sigo em frente. Estou em constante aprendizado e procuro suavizar com o amor que sinto tudo que toco. - Mesmo quando o olhar é de despedida e o aceno já não quer dizer um oi. - Uma mulher como eu sempre é admirada e amada em demasia e por muitos em segredo, o fascínio e o desejo que os homens (e algumas mulheres) podem ter, sucumbem ao medo que eles sentem de perder mais na frente algo tão precioso, preferem não iniciar uma dança sabendo que ao terminar a música apenas sobrará o olhar de despedida criando, dessa forma, arremedo de covardes e caçadores que fingem passividade num mundo colorido, onde todos se perdem de si mesmos.
Lembro-me de um dia em que estava confortavelmente sentada no ônibus e tinha um rapaz em pé com o zíper das calças na altura exata de meu braço, então eu deixei que ele roçasse em mim durante a viagem. Lembro que me senti muito bem por isso, minhas coxas apertaram-se e ficaram firmes em torno do sexo. E cada vez que o rapaz, desavisado de minhas intenções, se afastava de meu braço eu tratava de reverter à situação facilmente.
Então, é ou não é correto se dizer que o impulso e a ousadia vigoram dentro de mulheres iguais a mim? Ah, como eu quis compartilhar com alguém esse fato: meus amores serão minhas possibilidades de mutação, serão tudo que crio quando fito o mar. Terei verdadeiros ensaios para a grande apresentação de mim mesma.
E aonde quer que eu vá me bastarei com esses amores que se foram, permanecem e acontecerão.
Mas tenho cuidado, apesar de ousar viver, mantenho – como diria Álvaro Coelho – a sagacidade de um urso, porém de um urso amestrado.

- Justine Febril.

8 comentários:

  1. Gosto de te ler

    parece q leio as mulheres q existem em cada uma de nós, mas sem máscaras.

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  2. E eu me vejo fisgado sempre por esse blog. Seja forte! Resista.
    Não consigo. Ela pode até usar seu chicote, mas eu preciso ver esse sorriso.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. "Sempre me senti atraída pelos tímidos."
    Sentir prazer na conquista é quase indescritível e quando estamos a conquistar seres quase ingênuos o prazer é duplicado. Adoramos ser mulheres cheias de artes, atrativos... É divertido!
    Um abraço querida =).

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  5. Mas as várias mins que em mim existem são reflexo das múltiplas personalidades que existem em cada um de nós(...)* Só que mais francas.

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  6. Ficou lindo, sincero, e divertido de ler. Faz de você alguém forte, simplesmente por ter demonstrado e se aceitado como é, e, melhor, ter identificado exatamente as diversas formas de atrair olhares, a ponto de deixar os outros na dúvida da aproximação. Gostei muito!

    :*

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