Echo, echo, echo(...)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Jude


Esperava, enquanto a fazia chorar, que os dias passassem lentos e cheios de significado.
Seus olhos de gata sempre me mirando o cenho franzido, e o salto que dava da cama logo ao amanhecer eram comprometedores.
Seu ronronar era extremo ao dormir insatisfeita, e a língua áspera, que me parecia ter três pontas, podia descansar dentro da boca entre lábios cerrados.
As lambidas durante o banho faziam jorrar rios de mel em direção ao chão.
Quando percebi que era nosso último abraço sorri desconfiado.
Foi um abraço apertado. Sem beijo. Sem despedida.
Expulsei-lhe pela porta da frente e notei a fúria em seus gestos.
(Por que deveria tentar que você ficasse?)
Nosso tempo era curto e eu não pude hesitar.
E me flagrei pensando na história de nossos corpos abraçados: qual destino estaria vinculado ao futuro de nossas escolhas?
Devo achar essa resposta logo. Afinal, não gostaria de descobrir numa outra vida, quando já não formos gatos, que perdi seu último beijo intenso com afago de algodão entre minhas pernas.

-Salvador Rios.
Obs.: Salvador Rios é pseudônimo de Narayana Ribeiro.

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