Echo, echo, echo(...)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mini conto (para ser) feliz.


Era faceira e tinha uma perna levemente torta, uma voz que parecia saída do mais profundo do coração, bem do íntimo do peito.
Bruno era professor e ela mal o conheceu e logo passou a frequentar-lhe as entranhas. Ele sempre dava um jeito de fugir às investidas dela. Dizia que era comprometido com uma pequena conhecida pelo nome de Agnes e, portanto, não poderia atender seus apelos. Acontece que a deusa do fogo não encarava isso com tranqüilidade, mas fingia muito bem.
Começou fingindo-se de amiga para poder ficar ao lado de Bruno em todas as ocasiões onde se possa estar um amigo de verdade.
E ela aproveitava os momentos em que o encontrava para abraçar-lhe forte e transgredir a regra número um da amizade: colar seu corpo no dele e beijar-lhe a face macia bem no canto da boca, só para instigar-lhe um investimento forçado contra ela. Ele fugiu. Achava-a louca talvez?

Ela passou a visitá-lo em seu trabalho com o pretexto de querer voltar a estudar.
Ele esquivou-se. Consideraria seus atos imorais?
Ela imolava cada minuto em favor de si para poder estar com ele, na esperança de que ele se apiedasse dela e finalmente oferecesse algumas migalhas de seu corpo e de sua cama. E ele nada.
Seria gay? Agnes era realmente sua namorada?
Decidiu-se a deixá-lo em paz, mas não conseguia desatar-se do desejo por ele: estaria apaixonada ou apenas com o ego ferido?
Sentia-se depreciada. Oferecia-se continuamente e ele continuamente a desprezava. Foi quando ela decidiu investigar quem era Agnes. E teve uma decepção extraordinária ao descobrir que Agnes não só não era feia como não era artificial: era angelical e ciumenta como qualquer delinqüente juvenil, e inteligente, muito inteligente. Sentiu-se muito mal. Verificou com pavor que Agnes era absolutamente o que um homem como Bruno aprecia numa fêmea.
Os gestos de Agnes não eram calculados nem precisavam ser. O mau gosto com que se vestia apenas atiçava a graça da garota: não usava maquiagem nem soltava os cabelos selvagens de menina birrenta. Como poderia competir com alguém como ela afinal? Teve uma ideia: seria sua amiga também. Foi lá e apresentou-se à inigualável Agnes e detestou fazê-lo. Preferia ter-lhe desferido um golpe de foice verbal. No entanto com o passar do tempo ela foi se acostumando em fingir tanto que por vezes acreditou ser verdade o que dissimulava.
Não conseguiu nada com Bruno. Uma pena. Mas agora já não estava mais só. Tinha essa nova criança para embalar nos braços, essa criança de quem teve raiva e a quem tratou como rival.
Não pôde ter Bruno, deitou-se com Agnes.

- Justine Febril.

Obs.: Nas fotos, Narayana Ribeiro, antes de dormir.

3 comentários:

  1. Viva la vida loca! Ella es tu final?

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  2. A gente só se percebe de fato quando apaga a luz do seu quarto e fica só diante de si mesmo.

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  3. Mas, pode ser que nos encontremos também diante de outros - ou do Criador!

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